Território Restrito

16 ANOS 113 minutos
Direção:
Título original: Crossing Over
Gênero: Crime, Drama
Ano:
País de origem: EUA

Crítica

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Sinopse

Agente da Imigração em Los Angeles, Max precisa lidar diariamente com os postulantes a uma vida melhor nos Estados Unidos. Na companhia de seus colegas, enfrenta questões que colocam em choque o senso de dever e a compaixão envolvendo a migração para o território estadunidense.

Crítica

Filmes como Território Restrito, cujas tramas são verdadeiras ‘colchas de retalhos’, com vários sub enredos se desenvolvendo paralelamente, dificilmente atinge extremos como amor ou ódio. O mais fácil é ficar no meio termo: algumas histórias boas, outras nem tanto. O resultado é algo morno, sem muita paixão. E o longa do diretor sul-africano Wayne Kramer (The Cooler: Quebrando a Banca, 2003), refilmagem de um curta do próprio realizador, feito em 1996, é mais um belo exemplo desta verdade. Se por um lado os atores parecem dedicados e o tema é pertinente, por outro o conjunto geral soa artificial e programado demais para ser contundente.

Acredito que o maior problema de Território Restrito seja justamente esta esquematização exagerada. A proposta aqui é registrar as dificuldades de adaptação e o árduo cotidiano dos estrangeiros que tentam entrar nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Só que o diretor e roteirista não se fixa em um ou dois exemplos fortes, aprofundando-os em busca de conclusões e reflexões mais pertinentes. Por outro lado, nos deparamos com um verdadeiro caleidoscópio, algo mais amplo e geral, que tenta pincelar rapidamente todos os principais envolvidos nesta questão. Desta forma, estão todos lá, desde a óbvia mexicana que não consegue cruzar a fronteira (papel que coube à brasileira Alice Braga) até a bela australiana que visa o reconhecimento artístico de Hollywood. E entre estes dois parâmetros há espaço para os islâmicos em conflito com a própria fé, a menina africana que se encontra órfã, os chineses sem visão de um futuro auspicioso, o judeu que precisa reencontrar sua origem religiosa e o indiano indeciso entre as tradições familiares e os valores de uma nova sociedade. Do outro lado, há os americanos que devem lidar com isso diariamente: o agente de fiscalização aduaneira, a advogada de imigração e o burocrata que julga os pedidos de vistos, entre outros.

Tudo é tão calculado, as relações que unem todos estes personagens são por vezes tão forçadas, que fica difícil aceitar o que é dito com naturalidade. Por exemplo: o judeu é namorado da australiana, o policial é colega o indiano, a advogada que tenta encontrar uma mãe para a africana é também casada com o funcionário público e luta para salvar a garota iraniana. Não é como em Crash: No Limite (2004), por exemplo, no qual era justamente os esbarrões que damos uns nos outros ocasionalmente que formam uma realidade em constante mutação, ou no clássico Short Cuts: Cenas da Vida (1993), em que na diversidade dos problemas é que percebíamos o quanto somos todos iguais. Em Território Restrito nada acontece por acaso, e a impressão que se tem o tempo todo é de alguém por trás manipulando cada nova formação, conversa ou dilema.

Por outro lado, há um forte elenco defendendo esta mensagem que vai da tolerância ao desconforto. Harrison Ford é o nome mais conhecido, e é muito bom vê-lo não como o eterno Indiana Jones, e sim como um homem comum que também sofre e luta. Ashley Judd e Ray Liotta são outros atores competentes, que já tiveram momentos melhores em suas carreiras, mas mesmo assim demonstram empenho e empatia. Jim Sturgess é um intérprete limitado, sempre compondo o mesmo personagem, mas por outro lado Alice Eve (O Escândalo, 2019) e Cliff Curtis (10.000 A.C., 2008) oferecem uma versatilidade emocionante. Por fim, Alice Braga segue compondo um variado currículo internacional, mesmo que neste caso suas oportunidades tenha sido escassas.

Território Restrito levanta uma discussão interessante, porém sem a competência necessária para acrescentar algo relevante ao tema. Contenta-se em ser um painel, quando poderia se consolidar como um debate. E sem sermos surpreendidos, mesmo diante da relevância do que é discutido é quase impossível não nos aborrecermos. De nada adianta boas atuações se o contexto geral não proporciona o necessário para que isso seja perceptível e digno de atenção. Assim, por fim, o que se vê são mais bocejos do que reflexão, além de uma importante oportunidade desperdiçada.

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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