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Sinopse

Um grupo de soldados alemães, outrora combatentes nazistas, recebem uma nova tarefa ao fim da Segunda Guerra Mundial. A missão consiste em escavar e remover com as próprias mãos 2 milhões de minas terrestres em "terras inimigas", mesmo que alguns deles não tivessem sequer experiência na guerra.

Crítica

Em 1945, na Dinamarca pós-Segunda Guerra Mundial e ocupação alemã, milhões de minas terrestres tornam perigoso o litoral do país. Os nazistas pensavam que uma invasão inimiga poderia se dar por lá e, portanto, prepararam o local para tal possibilidade. Com o combate terminado, oficiais dinamarqueses tinham de assegurar que sua terra estaria segura novamente. Para tanto, soldados alemães, prisioneiros de guerra, foram obrigados a desarmar tais bombas com suas próprias mãos, uma espécie de punição pelos horrores perpetrados pelo Terceiro Reich. Acontece que vários desses combatentes germânicos eram jovens demais, muitos deles nem haviam chegado ao conflito, de fato. O longa-metragem dinamarquês Terra de Minas, indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2017, conta a história de um pequeno batalhão que fez esse trabalho perigoso.

Na trama, acompanhamos o sargento Carl Rasmussen (Roland Moller) e seu verdadeiro asco por qualquer alemão que lhe passe na frente. Ele foi designado a comandar uma pequena equipe de soldados para limpar as praias da costa oeste da Dinamarca. O batalhão é bastante jovem, sendo grande o contingente de recém-ingressos nos pelotões nazistas. Isso, no entanto, não incomoda Carl, de início. Ele será duro, pois eles devem pagar pelos males da guerra em que participaram. Com o passar do tempo, no entanto, Carl começa a perceber que o que tem nas mãos são apenas garotos, muitos deles imaturos demais. O líder da equipe, Sebastian (Louis Hofmann), se mostra preocupado com o próximo, sempre tentando comunicar-se com o sargento da melhor forma possível. A maior vontade dos soldados é apenas voltar para casa. Mas, com o explosivo trabalho sendo realizado, é pouco provável que alguém retorne.

Por mais que existam filmes de guerra sendo produzidos todos os anos, ainda mais ambientados na Segunda Guerra Mundial, é impressionante como sempre é possível encontrar um ponto de vista ou um momento pouco explorado. No caso de Terra de Minas, essa história só poderia ser contada com um bom distanciamento de tempo e perspectiva, visto que aqui somos levados a torcer pelos jovens alemães. Nenhum crime pode ser pago com o tratamento brutal que eles recebem. Não sabemos o que eles fizeram durante o conflito, ou se foram ativos na guerra. Pela idade, tudo leva a crer que são inocentes. O diretor Martin Zandvliet, em seu terceiro longa-metragem de ficção, coloca o dedo na ferida, mostrando atitudes pouco abonadoras dos oficiais dinamarqueses da época.

O destaque do elenco fica para Roland Moller, como o sargento dinamarquês que enxerga a verdade através do seu ódio. Embora a mudança pela qual passa o personagem soe um tanto abrupta e artificial, Moller consegue nos conduzir bem por suas dúvidas e atitudes, entregando uma atuação corretíssima. A culpa da alteração de comportamento pouco convincente se deve mais ao próprio filme, curto demais para que possamos sentir o peso das ações do sargento o perturbando. Para alguém que até um dia antes deixava soldados passarem fome, a cordialidade que segue – mesmo com as mortes e as explosões que ocorrem – surge de forma estranha.

A Dinamarca é um país de cinematografia consistente, que invariavelmente acaba por emplacar títulos na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar. Com três vitórias ao longo da história da premiação (A Festa de Babette, 1987; Pelle, o Conquistador, 1988; e, mais recentemente, Em um Mundo Melhor, 2010), o país tem beliscado sua quarta vitória há um bom tempo, com títulos fortes como O Amante da Rainha (2012), A Caça (2013) ou Guerra (2015). Terra de Minas talvez não valha à Dinamarca sua quarta estatueta, mas é uma produção que consegue ir além do lugar-comum, não sendo apenas mais um filme de guerra.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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