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Sinopse

Ted deseja se casar e ter um filho. Mas, por motivos óbvios, ele precisa de um doador de esperma. No entanto, para assumir adiante a função de pai, o urso de pelúcia precisa provar que é uma pessoa de verdade.

Crítica

Em um dos tantos momentos sem graça de Entourage: Fama e Amizade(2015), o protagonista Vince Chase (Adrian Grenier) se depara, no corredor de um estúdio em Hollywood, com Mark Wahlberg (produtor daquele filme), que afirma estar ali participando das filmagens de Ted 3. “Mas já?”, pergunta Chase, que ouve como resposta “se me deixarem, farei até o Ted 20!”. A brincadeira pode até parecer inusitada para quem não acompanha o eterno jogo de repetições e refilmagens do cinema norte-americano, mas será realmente surpreendente se de fato se concretizar com ares premonitórios. Tal conclusão é baseada no que se vê em Ted 2 – afinal, a única coisa aqui evidente é que a fonte de piadas a partir da relação entre um homem adulto e seu ursinho de pelúcia desbocado se esgotou já no primeiro filme.

Após o impressionante sucesso de Ted (2012) – que faturou quase US$ 550 milhões nas bilheterias de todo o mundo e conseguiu uma indicação ao Oscar – era inevitável que uma continuação fosse produzida em seguida. A ideia inicial era colocar os protagonistas – John (Wahlberg), um desocupado que leva a vida em trabalhos temporários, e seu ursinho de pelúcia que, magicamente, ganhou vida – em uma viagem até o México para reporem seus estoques de maconha. No caminho, iriam se deparar com tipos inusitados e provocar diversas confusões, ao melhor estilo road movie. O problema é que a concorrência foi mais rápida, e essa mesma história acabou chegando às telas dois anos atrás em Família do Bagulho (2013), outro inesperado sucesso popular. A solução foi providenciar às pressas um outro argumento. E nada que é feito preocupado apenas com a quantidade consegue manter um nível razoável de qualidade.

Como resultado, o que se vê em Ted 2 é o brinquedo separado de seu melhor amigo. Ele agora está casado, e para salvar sua união com Tami-Lynn (Jessica Barth) decide que os dois precisam ter um filho. Como, obviamente, ele não pode engravidá-la, solicitam uma adoção, decisão que é barrada quando, em julgamento, é decidido que ele não é uma pessoa, e sim uma propriedade. Para valer seus direitos humanos (?), tem início uma batalha jurídica, primeiro liderada pela advogada chapada Samantha (Amanda Seyfried, mergulhando de cabeça no espírito da bobagem), e depois pelo terror dos tribunais, Patrick Meighan (Morgan Freeman, se divertindo na mesma linha de Todo Poderoso, 2003).

Como se percebe pelo rápido resumo, o personagem de Wahlberg perde função neste segundo filme, descaracterizando-se o material original. John até está ali para ajudar o amigo em sua missão – e um envolvimento romântico entre ele e Samantha chega a ter algum espaço – mas o verdadeiro protagonista da história é mesmo Ted, que poucas oportunidades possui para investir em sua personalidade, de tão ocupado que aparece entre debates com a lei ou fugindo do mesmo inimigo vivido por Giovanni Ribisi, um colecionador de bonecos que nunca chega a provocar qualquer reação além de bocejos. A relação entre o marmanjo e o brinquedo, a influência de um no outro e o linguajar desbocado e sem freios que tinham entre eles se perdeu. Tudo o que resta é uma continuação desnecessária que nunca chega a dizer a que veio.

Seth MacFarlane viu seu nome despontar com o impacto de sua criação – além de dublar Ted, é também diretor de ambos os filmes – tanto que chegou a apresentar a festa do Oscar no ano seguinte. A impressão, no entanto, é que tamanha exposição não lhe fez bem – pelo contrário, deve ter lhe subido à cabeça, dimensionando mal seu potencial. Depois do problemático Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (2014), que frustrou público e crítica, ele decepciona mais uma vez com Ted 2, mostrando que, pelo jeito, esse raio não deverá cair duas vezes no mesmo lugar. Entediante, repetitivo e descartável, esta sequência ainda faz o desserviço de prejudicar a imagem do primeiro episódio, dando a entender que talvez tamanha repercussão tenha sido exagerada. Desprovido de humor e muito menos de uma trama interessante, não há personagem que consiga manter aceso seu interesse. E se é assim uma vez, quem dirá em vinte!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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