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Sinopse

Depois de muito tempo de relacionamento, um rapaz está novamente solteiro. Ele imaginava que seria divertido cair na gandaia novamente, mas descobre que o novo estado civil não é tão divertido.

Crítica

Ao mesmo tempo em que alguns (a maioria) realizadores costumam ir se aprimorando com o passar do tempo e a progressão dos seus trabalhos, outros parecem seguir caminho inverno: estreiam tão bem (ou talvez o suficiente para chamar atenção) que, a partir dali, é só ladeira abaixo. É neste ponto, aliás, em que se encontra o brasiliense, radicado no Rio de Janeiro, Matheus Souza. Depois de despertar interesse com a simpática comédia romântica Apenas o Fim (2008), ele resvalou feio na redundância e egolatria com o autoexplicativo Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida (2012). Mais quatro anos se passaram, e ele agora volta às telas com mais uma dose de auto-centrismo em Tamo Junto, em que chega ao fundo do poço da máximo “meu umbigo é meu universo” ao se colocar também como um dos protagonistas, deixando claro que, além de dirigir mal e escrever pior ainda, o rapaz acredita também ser capaz de atuar.

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Ao apresentar seu longa, que foi selecionado para a mostra competitiva nacional do 44° Festival de Gramado – felizmente o júri oficial teve mais bom senso do que os curadores do evento, pois este foi o único dos concorrentes a não ser premiado em nenhuma categoria – Souza afirmou ter se inspirado em filmes como American Pie: A Primeira Vez é Inesquecível (1999) e que sua vontade não era construir um discurso político e nem se aprofundar muito, pois queria falar com os jovens. Pra começar, o próprio título citado como referência já é uma cópia, e não o original (no caso, Porky’s: A Casa do Amor e do Riso, 1981), o que já indica o quão raso é seu discurso. Depois, se apostar no besteirol inconsequente e investir em clichês e estereótipos é o que para o cineasta representa estabelecer uma comunicação com o público adolescente, então está claro o quanto ele subestima sua própria audiência.

Em Tamo Junto, Felipe (Leandro Soares, roteirista de Vai que Cola: O Filme, 2015) decide terminar um namoro que não mais o estimula para melhor aproveitar a vida de solteiro, cheia de festas, mulheres e bebidas. Só que a realidade não é nada como esperava. Após apanhar da namorada – uma sádica com requintes de crueldade – é expulso da casa que dividia com os amigos (todos solteiros, é claro), pois, afinal, a única coisa boa que tinha a oferecer ao grupo eram as amigas da ex. Sem essa por perto, ele perde utilidade. E sem ter onde cair morto, acaba indo pedir abrigo a um colega que há anos não via, Paulinho (Matheus Souza, quem mais?), um nerd virgem que vive com a mãe e cada passo que dá parece inspirado pelos filmes, seriados de televisão, histórias em quadrinhos e jogos de videogame que ocupam seu tempo.

Há um lado bom em Tamo Junto, e esse está na presença de Soares. Ainda que inexperiente enquanto ator, o rapaz é bastante natural em suas inseguranças e tomadas de decisão, e cada movimento seu é fácil de ser apoiado pelo público. O problema está em todo o resto. Na primeira festa que vai, reencontra uma antiga amiga, Julia (Sophie Charlotte, tentando parecer à vontade), por quem sempre foi apaixonado. Mas ela está prestes a casar – com o namorado do colegial e por quem, obviamente, não está apaixonada. Alguma dúvida de como tudo irá terminar? Se a relação dos dois é construída do modo mais óbvio possível, ao menos a jornada até o resultado esperado poderia ser minimamente interessante. Mas ao invés disso, o diretor prefere fazer piadas sem graça como “vamos esperar a hora do padre dizer ‘se alguém é contra essa matrimônio que se manifeste agora’” ou “que tal largarmos tudo e fugirmos juntos?”, como se houvesse algum pingo de originalidade envolvida.

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Isso, porém, não é nada perto da presença irritante de Matheus Souza enquanto ator. A persona construída por ele, afetada, mimada e infantilizada ao extremo, se aproxima daquela também difundida pelo próprio em suas aparições públicas. Fica, portanto, difícil distanciar um do outro. Torcer por ele, portanto, é quase impossível. Entre gritos agudos despropositados e esquetes dignas dos momentos menos inspirados do Porta dos Fundos (Fábio Porchat e Antonio Tabet fazem rápidas participações para garantir uma ~falsa~ autenticidade), tem-se como resultado um filme inacreditavelmente misógino e machista, em que as mulheres servem apenas para atender aos desejos egocêntricos de adultos perdidos na vida que acham que a falta de rumo é, por si só, um mérito. Tamo Junto pode representar uma parcela cada vez maior de uma juventude imbecilizada pelo excesso de opções e falta de responsabilidades, mas enquanto cinema é tão descartável e inútil quanto uma camisinha furada – se é para ficarmos em uma analogia que, neste contexto, parece fazer algum sentido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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