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Sinopse

Três jovens que cresceram num dos lugares mais perigosos dos Estados Unidos utilizam a música para expor problemas sociais e acabam se tornando um sucesso estrondoso.

Crítica

Direto de Compton, a história dos negros com atitude. Assim, traduzida literalmente, essa frase parece fazer pouco sentido para a grande maioria dos brasileiros – ou, para ser mais preciso, para qualquer espectador fora dos Estados Unidos. Mas Straight Outta Compton: A História do N.W.A. (ou Niggaz Wit Attitudes) não só é facilmente compreendido não só por quem já é familiarizado com sua história, como também funciona com precisão junto ao que irão se deparar com este drama real pela primeira vez. Um pouco de contexto, no entanto, não faz nenhum mal, e a partir do momento em que se sabe que Compton é um dos bairros menos favorecidos dos subúrbios de Los Angeles e que N.W.A. foi uma das grandes bandas de Hip Hop do final dos anos 1980 e início dos 1990, a perspectiva se amplia, redimensionando não apenas o impacto desse relato no universo pop, mas também no campo social.

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Dr. Dre, Eazy-E, Ice Cube, Mc Ren e DJ Yella. Alguns destes nomes são facilmente reconhecíveis até hoje, outros possuem maior ressonância em círculos específicos. No entanto, é inegável para qualquer um que se aprofunde em suas trajetórias a importância de cada um deles para a disseminação da cultura negra nos EUA. Assim como também é fundamental perceber as presenças de Dre e de Cube entre os produtores de Straight Outta Compton. Ou seja, o que se tem aqui é uma versão da história deles contada pelos próprios, explorando apenas o que eles querem que seja visto e lembrado. Tal leitura poderia ser prejudicial em um cenário maior – e os mais críticos poderão apontar algumas inconsistências ou ‘esquecimentos’. Mas o resultado geral possui uma força tão impressionante que será difícil se focar em um ou outro deslize, uma vez que o conjunto se apresenta maior que qualquer um dos seus elementos em particular.

Ice Cube (O’Shea Jackson Jr., filho do verdadeiro Ice Cube), Dr. Dre (Corey Hawkins) e Eazy-E (Jason Mitchell) são melhores amigos, todos vizinhos em Compton. Vivem entre achaques policiais e a violência imposta pelos bandidos da região. A válvula de escape que possuem em comum é a música, através da qual não apenas relaxam e fogem dos problemas do dia a dia, mas também se expressam, manifestando em voz alta todas as angústias e infelicidades dos seus cotidianos. Quando uma oportunidade lhes é apresentada, abraçam com a cara e a coragem. O resultado será tão rápido quanto surpreendente. De apresentações no final da noite em lugares mínimos, quando percebem estão fazendo excursões e lotando ginásios. Mas nem tudo é um conto de fadas, e o sucesso tem seu preço.

Assim como num conto shakespeariano, o diretor F. Gary Gray vai estabelecendo uma rede de intrigas, mentiras e expectativas frustradas entre cada um dos membros do grupo. Figura central para que as desavenças tenham início, o empresário Jerry Heller é feito com gosto por Paul Giamatti, praticamente o único ator branco do o elenco. O astro, indicado ao Oscar por A Luta pela Esperança (2005), constrói milimetricamente um tipo com o qual é fácil se afeiçoar, ainda que sejam inegáveis suas segundas intenções por trás de cada gesto ou ato calculado. O’Shea, no entanto, é o maior catalizador de atenções, e sempre que está em cena é nele que o foco se dirige. Talvez pela impressionante semelhança física (os genes familiares falam alto neste caso) ou pela postura em constante ebulição, ele é o que mais se destaca dentre os protagonistas, deixando o apático Hawkins ou o irregular Mitchell sem muitas chances.

Straight Outta Compton

Straight Outta Compton: A História de N.W.A. tem uma estrutura de poucos excessos, dando suas pinceladas em cada um dos principais episódios que formam as trajetórias aqui apresentadas. Pertinente para um mundo que precisava ser sacudido e para uma realidade que não poderia permanecer calada, ainda assim carece de um diferencial que o torne uma obra memorável. Quase como um piloto de uma série de televisão, vai resolvendo os problemas à medida que aparecem, porém eliminando-os de cena apenas para que um próximo ocupe seu lugar. Talvez com uma edição mais enxuta e uma maior economia de personagens tivesse uma história mais objetiva, sem denúncias vazias ou tramas paralelas que pouco contribuem ao todo. Do jeito que está, não permite que ninguém fique indiferente à sua urgência, ainda que muito do seu relato seja amenizado pela continuidade dos fatos. Afinal, com exceção de um desenlace trágico, todos os demais seguem à disposição para somar novos capítulos a essa jornada. Para o bem e para o mal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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