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Sinopse

Não muito animado com a nova ocupação de coveiro, Dedodato tem seu cotidiano alterado com a chegada de Jaqueline, uma burocrata que está fazendo um levantamento sobre túmulos abandonados.

Crítica

Um musical no cemitério. Assim tem se apresentado Sinfonia da Necrópole, primeiro longa-metragem solo dirigido por Juliana Rojas, que até então havia apenas assinado a codireção do premiado Trabalhar Cansa (2011), além vários e badalados curtas. Exibido pela primeira vez no 6th Paulínia Film Festival, foi selecionado também para o 42° Festival de Cinema de Gramado, o que já significa muito sobre o perfil da obra: é um trabalho voltado a um público preparado, em busca de material inovador e alternativo, exatamente como se costuma encontrar nas plateias dos principais eventos cinematográficos pelo país. O espectador médio, aquele em busca mais de entretenimento do que cultura, certamente irá estranhar a ousada proposta da realizadora.

Inspirado no telefilme A Ópera do Cemitério (2013), Sinfonia da Necrópole é uma versão longa e melhor desenvolvida da história que envolve os personagens Deodato (Eduardo Gomes), um jovem que veio do interior em busca de emprego na capital e acaba trabalhando como coveiro ao lado do tio, e Jaqueline (Luciana Paes), a funcionária do necrotério municipal que tem como função reordenar os espaços – e, consequentemente, os mortos – que ali encontram seu último lugar de descanso. Os dois são tipos deslocados, mas por motivos diferentes: ele não gosta do que está fazendo, desmaia a todo instante – tem vertigens ao se deparar com os defuntos – mas, ao mesmo tempo, parece estar acomodado, sem maiores ambições. Ela, por outro lado, tem paixão e entrega por sua atividade, mas por seu mulher e dona de uma beleza exótica, afasta mais do que atrai aqueles ao seu redor. No entanto, a química entre eles existe, e será a mola propulsora da ação.

Se o público fica preso aos acontecimentos envolvendo os dois protagonistas, não será somente este o único atrativo do filme. Afinal, estamos falando de um musical, e canções surgem a todo instante, defendidas e interpretadas pelos próprios atores, que mesmo sem serem cantores profissionais – a maioria, ao menos – desempenham com competência o desafio ao qual são propostos. O inusitado possui seu charme, e este diferencial se revela de peso dentro das possibilidades do filme. Não há muito mais a se discorrer sobre a trama – os vivos seguem levando suas vidas, os mortos até se arriscam num balé improvisado, e aqueles responsáveis pelos outros, independente de que lado estejam, continuam com seus afazeres, buscando qualquer tipo de resultado, por mínimo que seja.

Sinfonia da Necrópole é quase uma brincadeira, e talvez seja justamente esta falta de ambição do projeto seu maior mérito. É um filme fácil de se assistir, e talvez com um título mais atraente, com nomes mais conhecidos ou uma assinatura de renome tivesse uma carreira – e um público – mais amplo. Uma boa definição é imaginar o que Tim Burton faria, em início de carreira, caso fosse brasileiro e sem muitos recursos, mais cheio de imaginação e vontade de se fazer ouvir. Simpático e bem acabado, não perdura na memória assim como as realizações anteriores da diretora, mas também não faz feio dentro de um contexto mais amplo. E, ainda assim, cumpre sua função de propor uma diversidade maior no cinema nacional.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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