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Sinopse

Novamente traído pela fatal Ava, Dwight sai em busca de vingança. Ao mesmo tempo, noutro recanto da cidade do pecado, Nancy busca a desforra pela morte de John Hartigan.

Crítica

Muitas podem ser as razões para explicar o fracasso de Sin City: A Dama Fatal nas bilheterias norte-americanas. Continuação direta de Sin City: A Cidade do Pecado (2005), que quase uma década atrás faturou mais de US$ 150 milhões nas bilheterias de todo o mundo, este novo filme ambientado numa realidade extremamente cartunesca teve destino ainda pior que The Spirit: O Filme (2008), última experiência do quadrinhista Frank Miller atrás das câmeras: enquanto este chegou a arrecadar quase US$ 20 milhões nos EUA, o longa atual foi pouco além dos US$ 13 milhões, confirmando-se como um dos maiores desastres da temporada, principalmente se levarmos em conta a alta expectativa que rondava o projeto até sua estreia. E se o co-diretor Robert Rodriguez pode assumir parte dessa culpa – por seu virtuosismo exagerado e maneirismos narrativos – o verdadeiro responsável é, inegavelmente, Miller, que de tão acostumado ao universo das histórias em quadrinhos falhou, mais uma vez, em tentar adaptá-lo a uma visão cinematográfica.

O primeiro Sin City teve seu argumento construído a partir de diversas histórias elaboradas por Miller previamente em suas graphic novels. Os personagens eram familiares são só aos fãs, mas também entre si, pois habitavam o mesmo cenário decadente e altamente perigoso. A ligação entre cada uma dessas tramas era tão tênue quanto gratuita, e deve-se a isso em parte o resultado agradável aos interessados e curiosos, que encontraram ali exatamente o que procuravam: um gibi filmado, em última instância. Porém passou-se quase dez anos entre um filme e outro, e se o público atual enxerga esse visual até então revolucionário como corriqueiro e pouco diferenciado dos demais do gênero, o mesmo não pode ser dito da dupla de realizadores, que seguiram tratando sua obra com o mesmo olhar responsável pelo projeto anterior. E, sem evolução ou mudanças, o novo logo torna-se velho e é, irreversivelmente, descartado. Tal qual aqui se sucedeu.

O jogo de enganos de Sin City: A Dama Fatal começa no título e continua nos personagens principais. Alçada à condição de grande atrativo do novo elenco, a francesa Eva Green repete a performance inspirada vista recentemente em outra produção que continha o dedo de Frank Miller300: A Ascenção do Império (2014), em que ele aparecia como produtor executivo – porém com bem menos oportunidades de colocar seu talento em evidência. Sua história é tão clichê quanto redundante, limitada ao ponto de que nem uma auto-ironia lhe é concedida. É frustrante perceber que ela é apenas uma distração, quase um prólogo da verdadeira ‘dama fatal’: Jessica Alba, uma das atrizes favoritas de Rodriguez – ela aparece também em Pequenos Espiões 4 (2011) e Machete (2010) – numa predileção que deve ter mais a ver com seus atributos físicos do que com seu potencial interpretativo. Escolhida para defender um enredo de amargura e vingança, tudo que a estrela consegue é forçar o beiço emburrado enquanto balbucia seus diálogos, sem expressões mais profundas e em ritmo sonolento.

Enquanto isso, tipos marcantes do episódio anterior, como Marv (Mickey Rourke), Gail (Rosario Dawson) e Hartigan (Bruce Willis) se tornam meros coadjuvantes. Josh Brolin, assumindo o personagem que antes fora defendido por Clive Owen, faz o que pode com o que lhe é oferecido, mas entre a fotografia estilizada e a má sorte que seu destino lhe reserva sobra pouco com o que se inspirar. Resta torcer para o vilão-mor, novamente recebido com gozo por Powers Boothe, ao mesmo tempo em que perguntamos: o que Joseph Gordon-Levitt, marcando presença como um jogador inveterado que insiste em bater com a cabeça no muro, está fazendo no meio dessa confusão?

Assim como poucos outros filmes conseguiram com tamanha exatidão, Sin City: A Dama Fatal é, literalmente, mais do mesmo. Não deve decepcionar quem for conferi-lo sabendo de cor todos os diálogos dos quadrinhos e esperando ver em cena exatamente o que já lhe é próximo, sem surpresas nem inovações. No entanto, para a grande maioria do público, aqueles atrás de uma trama consistente, personagens com os quais é possível torcer e se envolver e um programa que ofereça algo original e atraente, a conclusão é das mais pessimistas. Talvez uma volta às origens de fato radical, com Frank Miller dedicando-se novamente à atividade literária e Robert Rodriguez exercendo mais uma vez seu olhar latino, o acerto seja mais facilitado. Afinal, desse modo, falariam do que sabem, com propriedade e conhecimento, sem enveredar por caminhos tão tortuosos como os aqui percorridos, que parecem servir mais para confundir do que entreter com competência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Ailton Monteiro
5
MÉDIA
4.5

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