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Sinopse

Sherlock Holmes duvida que a morte do príncipe da Áustria tenha sido suicídio. Ao investigar o ocorrido na companhia de seu fiel amigo Watson, Holmes descobre que a tragédia é apenas a peça de um quebra-cabeça.

Crítica

Robert Downey Jr é um dos casos mais impressionantes da Hollywood moderna. Ator desde a tenra infância, aprontou tudo o que podia na adolescência e na juventude, entrando na maturidade com muita irresponsabilidade e rebeldia. Drogas, sexo e todos os vícios possíveis fizeram parte do seu cardápio e preferências. Isso até decidir deixar as clínicas de reabilitação, as revistas de fofoca e os escândalos vazios para trás e se focar no bom intérprete que é. E apesar desse seu ressurgimento ter menos de uma década – as coisas começaram a melhorar com o apoio do amigo George Clooney em Boa Noite e Boa Sorte (2005) – ele já conta nesse período com uma indicação ao Oscar (como Coadjuvante, por Trovão Tropical, de 2008), duas franquias cinematográficas de retumbante sucesso (essa e Homem de Ferro) e um Globo de Ouro de Melhor Ator – justamente pelo primeiro Sherlock Holmes (2009)! Agora, se o primeiro longa lhe rendeu esse reconhecimento, é no mínimo curioso o fato da sequência não gerar nem ao menos uma indicação. E isso é somente um dos indicativos de que esse Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras é um filme muito inferior ao anterior.

Há somente dois elementos que fazem desse O Jogo de Sombras superior ao episódio de estreia dessa reinvenção do clássico personagem de Conan Doyle: a estrela feminina e o alívio cômico. Noomi Rapace (do original Os Homens que não Amavam as Mulheres, 2009) é muito mais atriz que Rachel McAdams (Meia-Noite em Paris), e aqui comprova de vez o equívoco que foi a estrela feminina do outro filme. Rapace é bela, mas também selvagem, dinâmica e com uma forte presença cênica, tudo o que falta à McAdams. E ao invés de termos alguns momentos de humor aleatórios durante a trama, eles agora se concentram na participação hilária e muito bem acertada do irmão mais velho de Holmes, Mycroft, interpretado pelo genial Stephen Fry (Wilde, 1997). Com sua fina ironia, ele desmonta toda a pompa em torno das vilanias perseguidas por Sherlock e por seu fiel escudeiro – e, dizem as más línguas, paixão platônica – Dr. Watson (Jude Law, novamente colocando-se com uma postura forte demais para um personagem que historicamente coadjuvante). Os dois, ao lado dos protagonistas, fazem ao menos valer a experiência de conferir a produção, à despeito de toda a pirotecnia e descaracterização que transformou o renomado investigador em só mais um dentre tantos.

Tudo o que tornou Sherlock Holmes um personagem tão famoso no último sucesso é praticamente deixado de lado em O Jogo de Sombras. Assim, o que temos é só mais um blockbuster, e qualquer um que tenha visto o primeiro filme irá se deparar com os mesmos maneirismos, recursos visuais e supostas inovações, que desse modo se mostram antigas e ultrapassadas. Dessa vez conhecemos finalmente com o vilão Professor Moriarty (Jared Harris, filho do falecido Richard Harris), antagonista preferido dos livros. Gênio do crime, ele era o grande arquiteto do mal que incomodava Holmes desde a história anterior, e o que se passa aqui é uma continuação direta do que vimos antes, colocando herói e bandido frente a frente em duelos que abandonam a inteligência e a perspicácia para se resumirem num enfrentamento de muitas balas, fogo e luta física. E tem-se, mais uma vez, o de sempre: um tentando conquistar o mundo, e o outro fazendo o possível e o impossível para impedi-lo. O final, obviamente, não será surpresa para ninguém.

Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras é uma produção que serve apenas para marcar território, manter o nome dos artistas em alta e faturar mais alguns milhões. É fácil de se assistir, e mais fácil ainda de se esquecer. Não há absolutamente nada memorável em cena, e mesmo o diretor Guy Ritchie, que quando surgiu no cenário cinematográfico com os inventivos e ousados Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch: Porcos e Diamantes (2000) parecia prometer muito, agora dá indícios de ter se acomodado com o estabelecido. E pelo jeito, como os ingressos seguem sendo vendidos – já são quase US$ 400 milhões arrecadados em todo o mundo – duvido que alguém o convença do contrário. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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