Crítica

Contemplações…

longas…

auto-indulgentes…

e… cheias…

de… silêncio…

não… são…

a… mesma… coisa…

que…

suspense.

Foi o que não contaram a Lorcan Finnegan (ou a M. Night Shyamalan, segundo seus últimos projetos), diretor desse Sem Nome, que com o roteiro de um curta (no máximo um média), se estende por intermináveis 90 minutos.

Aparentemente escrito e montado pelo Flecha, de Zootopia (2016), o longa de Finnegan acompanha o agrimensor Eric (Alan McKenna) em um trabalho de campo no meio de uma floresta. Primeiramente sozinho em uma cabana alugada, ele descobre no local os escritos de um botânico sobre as propriedades dos cogumelos e plantas do lugar. Porém, conforme o tempo passa e sua pesquisa se mostra infrutífera, ele se torna paranóico com a floresta, assustando mesmo sua amante e assistente, Olivia (Niamh Algar), que chega por lá uns dias depois.

Não que seja errado o que Finnegan faz aqui. E a primeira parte de Sem Nome funciona muito bem na verdade, apostando apenas em ruídos ambientes que permeiam sequências inteiras sem nenhum diálogo, construindo muito bem o isolamento e solidão de Eric na cabana. Além disso, a fotografia é, além de plasticamente interessante, funcional ao projeto, enfocando a floresta com ajuda de luzes artificiais que a tornam um labirinto idêntico, seja para qual lado se olhe. E se mantivesse a abordagem, o filme poderia até mesmo se justificar por sua própria forma. Entretanto, a partir de um ponto o longa decide desenrolar seus mistérios, investindo numa estrutura mais clássica de suspense, com os habitantes de um vilarejo próximo falando de lendas do local, barulhos estranhos à noite e mesmo um “vizinho” meio suspeito – seria tudo imaginação deles ou um complô?

E ao fazer isso, Finnegan pede ao espectador que pare de emergir naquela atmosfera junto com seus personagens e, de outra forma, comece agora a torcer para que eles se livrem dela. Spoiler: não funciona. A partir do instante em que exige que temamos por Eric e Olivia, o cineasta destrói o clima opressivo que criara no primeiro ato, e pior, deixa explícito que não entende a diferença entre contemplação e suspense, imaginando que qualquer sequência mais demorada irá automaticamente fazer com que o público fique tenso – algo que Shyamalan tem feito bastante também, muito por autoindulgência.

Assim, depois de um bom primeiro terço, Sem Nome se torna excruciantemente aborrecido e óbvio. Apesar de uma ou outra imagem interessante que acaba gerando, como aquela em que Eric caminha num campo em direção à floresta açoitada pelo vento como um mar revolto prestes a engoli-lo, o filme de Finnegan se beneficiaria caso tivesse uma hora a menos e um foco mais definido. Exercitar o gênero não é crime, mas fazer isso sem entender seus fundamentos deveria ser.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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