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Sinopse

Em 1993, os adolescentes Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley Jr. foram acusados de assassinar brutalmente três crianças de oito anos. Em um julgamento repleto de polêmicas e incertezas, eles foram condenados. Após uma longa batalha judicial, foram soltos no ano passado.

Crítica

Um dos casos mais polêmicos da história jurídica dos Estados Unidos ocorrido em 1993, o West Memphis Three, ganha as telas nesta eficiente adaptação do livro que esmiúça o caso em todas suas frentes. Sem Evidências, do diretor egípcio e naturalizado canadense Atom Egoyan, centra suas atenções não apenas no julgamento de três adolescentes, aparentemente, acusados de forma injusta, mas também na luta de um investigador para que a verdade venha à tona e no desespero de uma mãe que não sabe mais no que acreditar após a morte do filho.

O longa vai direto ao ponto. No dia 5 de maio de 1993, três garotos vão passear de bicicleta na região conhecida como Devil’s Knot (título original do filme que, em tradução livre, seria Nó do Diabo) em West Memphis, no estado americano do Arkansas. No outro dia, são encontrados mortos, nus e amarrados no fundo de um riacho. A polícia não demora em “encontrar” os culpados, três jovens de 16 anos (Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley) que são acusados de terem cometido o crime ao praticarem satanismo. E o longa mostra todo o processo até seu aparente fim.

No roteiro escrito a quatro mãos por Paul Harris Boardman e Scott Derrickson, com apoio da escritora do livro homônimo que inspirou o filme, Mara Leveritt, a história é vista por dois pontos de vista distintos: o da mãe de um dos meninos mortos, Pam Hobbs (Reese Witherspoon), e Ron Lax (Colin Firth), investigador contra a pena de morte que oferece seus serviços para defender os suspeitos. É neste embate silencioso (já que os personagens só se encontram próximo ao fim do filme) que Atom mostra sua sensibilidade para narrar uma história que, por muito pouco, poderia cair no velho clichê do drama de tribunal.

A Pam de Reese é uma mulher para quem a vida perde significado após a morte do filho. Em um arco muito bem construído, a aparentemente ingênua e preconceituosa personagem vai afundando na incerteza sobre os assassinos que destruíram sua família, ainda mais à medida em que ela participa ativamente do julgamento e não consegue enxergar provas palpáveis de que os adolescentes cometeram o tal crime. Sua intérprete, uma Reese finalmente livre das comédias românticas e escolhendo bem (novamente) papéis mais densos, se mostra mais madura não apenas no físico, totalmente desglamurizado, mas também na dureza com que encara os fatos, ainda que desmorone ao lembrar da criança. Um ponto alto de um filme já interessante por si só.

No outro lado da história, o investigador interpretado por Firth bate de frente com praticamente toda a cidade, já que está instaurado na comunidade o preconceito contra roqueiros ouvintes de heavy metal que usam preto e gostam de bruxaria. Para a população, a polícia e o próprio júri, nem é preciso provas: os três são culpados simplesmente por serem párias naquela sociedade. Mesmo com toda a equipe de defensores públicos que apresenta a todo momento evidências de que não há ligação nenhuma dos suspeitos com o crime (aliás, nunca houve uma prova concreta de que eles estivessem estado no local, por exemplo), nem o juiz acha necessário que um julgamento justo ocorra. E a falta de provas é vergonhosa para a polícia e o júri, por mais que ambos não queiram admitir. Há amostras de sangue perdidas, fios de cabelo que não foram examinados, depoimentos confusos e mentirosos. Um desastre praticamente comprado.

É claro que todas as armas estão dispostas para a trama cair no clichê, visto que boa parte do filme acontece durante o julgamento. O diferencial é que o diretor e seus roteiristas souberam jogar com todas as testemunhas, suas falas (a maioria, contraditórias) e seus medos, em um vai-e-vem de situações que remetem ao que foi dito, o que pode ter sido falado e o que nunca ocorreu. Há inserções de flashbacks a todo momento e um simples descuido do espectador pode fazer que ele perca alguma pista aparentemente importante da história.

Não que esta mesma história seja concluída. Não é nenhum spoiler dizer que os adolescentes foram condenados, mesmo com a total falta de evidências, como sugere o título brasileiro. Aliás, até hoje o caso não foi solucionado, mesmo que o trio tenha sido solto, ainda sob a acusação que os considera culpados até hoje. Sem Evidências tem sido muito criticado, especialmente por não chegar a uma conclusão ou apontar culpados. Justamente é aí que reside sua maior qualidade: deixar que o público também analise o caso e, mais ainda, entenda que está é uma obra relevante pela discussão sobre o falho sistema jurídico o questionamento sobre a pena de morte. Afinal, como condenar ao fim da vida uma pessoa que pode ser inocente? Pior ainda, por puro preconceito de uma sociedade e de uma polícia ineficiente?

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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