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Sinopse

Durante um voo de Nova York a Londres, o agente Neil Marks recebe uma série de mensagens SMS enigmáticas, dizendo que um passageiro será morto a cada 20 minutos caso US$ 150 milhões não sejam transferidos para uma conta bancária. Inicialmente Beil não dá atenção à ameaça, mas quando o primeiro passageiro aparece morto ele inicia uma investigação em pleno avião sobre quem possa ser o assassino.

Crítica

Histórias que se passam durante um único voo já renderam ótimos e desastrosos exemplares para o cinema. Até mesmo Stanley Kubrick mergulhou um pé no tema com seu excelente Doutor Fantástico (1964). Entre os bons filmes encontram-se Memphis Belle (1990), Voo United 93 (2006), Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu (1980) e Força Aérea Um (1997). Entre os medianos ou mesmo ruins estão Plano de Voo (2005), Voo Noturno (2005), Serpentes à Bordo (2006) – que até diverte pelo absurdo – Fenda no Tempo (1995) – minissérie baseada no livro de Stephen King que foi compilada num filme de quase quatro horas... zzzzZZZZzzz – e o recente Os Amantes Passageiros (2013). E uma vez que este Sem Escalas não conta com Harrison Ford como o presidente dos Estados Unidos enfrentando um terrorista interpretado por Gary Oldman, o plot o fazia pender mais para esta última categoria do que para a primeira. Porém, provando que de vez em quando ainda faz escolhas acertadas, como Busca Implacável (2008) e A Perseguição (2011), Liam Neeson protagoniza aqui um thriller tenso e convincente.

Quando o agente federal à paisana Bill Marks (Neeson) começa a receber misteriosas mensagens durante um voo entre Nova York e Londres, estranhos eventos se desenrolam fazendo com que o confundam com um terrorista prestes a sequestrar o avião e seus passageiros. Contando com a ajuda da civil Jen (Julianne Moore) e de alguns outros membros da tripulação, o policial tenta descobrir qual das 150 pessoas à bordo é o verdadeiro culpado, enquanto este ameaça matar uma pessoa a cada vinte minutos. Com calma, o roteiro não se apressa em apresentar todos os fatos de uma só vez – até descobrirmos a profissão do protagonista, por exemplo, se vão mais de quinze minutos. E o próprio mistério se desenrola devagar, primeiro baseando-se na troca de mensagens, na qual o trabalho do espectador é reduzido a ficar lendo-as enquanto surgem em tela sobrepostas à imagem, o que torna o primeiro ato um pouco cansativo. Mas tão logo Bill confirme a veracidade das ameaças, o ritmo vai acelerando conforme a situação passa a se agravar.

Mergulhada em uma palheta cinzenta que parece ser obrigatória nos filmes de Neeson, trazendo uma atmosfera paranoica que aqui funciona dentro das expectativas, a fotografia é esperta ao burlar a necessidade de ter que enfocar o celular toda a vez que uma mensagem se faz importante para a trama ao investir na linguagem citada acima, um recurso que está se tornando comum, também usado no seriado Sherlock (2010-2017) e em Fruitvale Station: A Última Parada (2013). Tal artifício moderniza até certo ponto a linguagem cinematográfica para um público acostumado com telas multifuncionais, além de agilizar a montagem. Em Sem Escalas esta abordagem também facilita a impessoalidade; sem entonação ou alguma característica própria, as ameaças poderiam ser atribuídas a qualquer um dos personagens, o que torna a tarefa de descobrir o verdadeiro culpado muito mais interessante para o espectador.

Ganhando de presente uma coadjuvante de luxo, Neeson desenvolve uma boa parceria com Moore, mesmo ambos tendo que interpretar os típicos estereótipos do gênero: o detetive traumatizado que perdeu sua família e a aprendiz disposta a ajudar. Estão lá também o cara suspeito demais para ser o culpado, a criança em perigo, clichês óbvios (um muçulmano, no caso) e o chato que quer saber o que está acontecendo. Todos surpreendentemente colocados de forma natural em suas funções dentro da trama, ajudando o filme a revelar seus mistérios de forma orgânica e verossímil. A dúvida sobre a identidade do(a) terrorista realmente permanece até o último segundo antes deste(a) ser revelado(a), e seus motivos, se não são os melhores, são ao menos compreensíveis e condizentes. E mesmo que suas razões possam soar tolas em comparação com a complexidade de seu plano, a revelação destas está inseridas dentro de um clímax tão bem orquestrado e tenso que podemos relevá-las. Ponto para o diretor Jaume-Collet Serra, que já havia dirigido o ator no mediano, mas também cativante, Desconhecido (2011). Se a parceria entre os dois continuar a gerar obras cada vez melhores, o próximo filme pode ser um 10 em 10. Por enquanto, quatro estrelas devem dar conta deste ótimo suspense.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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