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Sinopse

Martin Luther King, Jr, pastor protestante e ativista social, acompanha as históricas marchas pacifistas de 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana.

Crítica

A exclusão dos negros no processo eleitoral norte-americano, o atentado a uma igreja e a morte de um manifestante foram o estopim para as marchas de Selma a Montgomery em 1965, evento que levou o país à aprovação da Lei dos Direitos ao Voto, uma conquista histórica do movimento negro. A escolha do tema é um dos aspectos mais interessantes de Selma: Uma Luta Pela Igualdade, filme de Ava DuVernay que retrata não apenas um dos períodos políticos mais turbulentos e importantes da história recente dos EUA como também aproveita para tratar da personalidade do pacifista Martin Luther King Jr., líder do protesto.

Em 1964, Luther King já havia ganho o Prêmio Nobel da Paz pelo ativismo no combate à desigualdade racial através da não-violência. Com o reconhecimento, foi incisiva sua participação neste levante de protestos. Na época já era permitido que negros votassem, mas a participação era praticamente nula devido aos “testes” aos quais as pessoas tinham que passar para conseguir seu “título de eleitor”, como alfabetização. Ora, se 80% da população vivia abaixo da linha da pobreza e não tinha acesso às escolas, como exigir de forma indiscriminada que todos tivessem direitos iguais? Era a legítima “passada de mão” do governo para tentar aplacar os conflitos em regiões mais racistas, como o sul norte-americano. Por conta disso, as três marchas de 85 km de Selma foram importantes dentro do contexto histórico. A primeira foi rechaçada com extrema violência policial no episódio conhecido como “domingo sangrento”. A segunda, já com um leve auxílio da presidência do país, foi tratada como armadilha pelos manifestantes, que não concluíram a caminhada, mesmo com a aparente bandeira da paz, incentivada (olha o racismo de novo) pela participação de simpatizantes de outras raças. A terceira culminou após a morte de um reverendo, justamente um dos brancos que apoiava o protesto.

A diretora tem mão firme e não hesita em cutucar a ferida de seu país com cenas fortes como a explosão da igreja durante a descida de crianças numa escada, a morte do manifestante dentro de um restaurante ou a truculência da polícia durante a primeira manifestação, quando os participantes são espancados e feridos das mais diversas formas, seja com cassetete e gás lacrimogênio ou até chicotadas. Esta cena específica demonstra muito do racismo impregnado, mais até do que as expressões ferinas como “fora, negros”, pois a corda utilizada como chibata remete ao período de escravidão, algo que os racistas parecem não querer esquecer em nenhum momento ao inferiorizarem os manifestantes.

Neste interím, David Oyelowo brilha como um Martin Luther King Jr. repleto de camadas, não apenas em seus inegáveis carisma e liderança, como também em suas dúvidas a respeito de como proceder, sua postura afirmativa perante o governo norte-americano e, também, no trato com a família. Afinal, por mais que sua esposa apoiasse o marido, conflitos internos não faltaram, inclusive um breve afastamento devido à (falta de) segurança para sua família neste período turbulento. Algo que nunca havia sido explorado no cinema. Até porque este é o primeiro longa oficial sobre o pastor lançado nas telonas após anos de tentativas de diversos estúdios. Era preciso alguém que entendesse na pele como estes fatos foram decisivos para a maior parte da população do país.

Independentemente de Selma: Uma Luta Pela Igualdade ter sido ignorado no Oscar em diversas categorias às quais merecia ser lembrado (tanto seu protagonista como a diretora, que seria a primeira negra da história postulante ao prêmio, entre outros), o longa merece ser visto como uma visão abrangente e (mesmo que não neutra) realista sobre um período importante da história dos EUA que remete até hoje. Ou será que Barack Obama seria presidente do país caso não houvesse esta manifestação de 50 anos atrás? Uma joia rara do gênero e peça importante para a realização de cinebiografias de relevância na filmografia mundial.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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