Crítica


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Sinopse

Uma atriz em ascensão se apaixona por seu colega de cena, um homem muito mais consolidado na indústria do cinema. Após se casar com ele, ela percebe que se apaixonou por um personagem e que a realidade é diferente.

Crítica

O título pode soar estranho aos ouvidos, e sua origem – Argentina – pode despertar uma curiosidade nos cinéfilos mais atentos. Mas não se enganem. Roteiro de Casamento, afinal, é apenas mais uma comédia romântica, nos mesmos moldes de tantas outras que volta e meia surgem nas telas, sejam hollywoodianas, brasileiras e de qualquer outra nacionalidade. A preocupação, invariavelmente, é comercial. Até se pode brincar um pouco aqui e ali com os cenários, a diferenças entre os protagonistas ou outros elementos que mais servem de distração do que como motores para o desenvolvimento da trama. Isso porque, em último caso, tudo que importa é o final feliz entre os protagonistas. Independente se a língua em cena é o inglês, o português ou, como nesse caso, o espanhol.

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Assim como outros lançamentos recentes, como Jogo do Dinheiro (2016) – que fala da televisão – e A Garota do Livro (2015) – que aborda o universo literário – Roteiro de Casamento tem como ponto de partida o universo de duas pessoas célebres e o quanto elas deixam de ser quem são de verdade por causa dessa condição. Fabián Branco (Adrián Suar, definitivamente o mais à vontade) é um astro de cinema de repercussão internacional, que já trabalhou com todos os grandes – ao lado de Brad Pitt e sob o comando de Francis Ford Coppola, por exemplo. Ele é convencido por seu agente a estrelar um novo filme, cujo par romântico é interpretada pela namorada do diretor. A questão é que, mais do que competente, ele é um cara formado por esse meio, que se deixa levar pelos personagens que interpreta – talvez, justamente, pela ausência de uma personalidade própria. Ela, novata no ramo, se encanta pelo trato que ele lhe depreende. Acaba apaixonada, e os dois se casam. Só para depois, no entanto, ela perceber que seu amor era pelo papel que ele assumia no filme, e não pela pessoa que é na vida real.

Flor (Valeria Bertuccelli, fazendo milagre com o que lhe é oferecido, uma garota sem graça e pela qual é difícil torcer) é a jovem frágil levada pelas circunstâncias. Consegue uma grande oportunidade para estrear como atriz por dormir com aquele responsável pelo filme, só que troca esse pelo ator sem aparentar remorsos. E assim que assume o matrimônio, na primeira oportunidade já está chorando nos ombros dos amigos se dizendo arrependida. Por mais que o cineasta Juan Taratuto – o mesmo do recente Papéis ao Vento (2015) e que já havia trabalhado com esses mesmos protagonistas em Um Namorado para Minha Esposa (2008) – foque sua atenção em Suár (que, assim que ouve, sem ela perceber, as reclamações da esposa, trata logo de voltar a fingir para convencê-la do contrário), é nela que o conflito maior se estabelece. Porém, sem empatia, o desenrolar da ação serve apenas para que seu desfecho se revele irrelevante para a maior parte da plateia.

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Taratuto se esforça para que o drama vivido por seus personagens seja conduzido com leveza e até um pouco de divertida irresponsabilidade. Porém, qualquer análise mais atenta se dará conta de que estamos diante de dois mentirosos, um compulsivo e outra levada pela situação na qual se meteu e não parece disposta a fazer o necessário para dela se livrar. É por isso, também, que terminamos por nos identificar mais com ele – ainda que tenha a moral mais duvidosa – graças ao carisma de Suár, e menos com ela, que passa mais tempo reclamando da vida do que fazendo, de fato, algo para mudá-la. Roteiro de Casamento até provoca um riso tímido vez que outra, seja pela desfaçatez do protagonista ou por seus diálogos referenciais, mas termina por cansar pela longa duração, pela narrativa irregular e pelo desequilíbrio entre seus intérpretes. Começa bem, mas logo azeda, assim como a relação vista em cena. Ao menos fosse esse o objetivo, o resultado seria válido. Mas para isso a proposta teria que ser outra. E falta perspicácia aos envolvidos para abraçar essa possibilidade sem ressalvas. Tanto entre os realizadores como nos dispostos a consumi-la como entretenimento rápido e facilmente esquecível.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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