Crítica


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Sinopse

Antônio viaja ao Deserto do Atacama, no Chile, em busca de inspiração para seu novo conto. Depois de encontrar fortuitamente um cadáver, acaba impedido de voltar ao Brasil. Ele se envolve com Florência, moradora local.

Crítica

Os elementos próprios do universo literário como base criativa para a elaboração de uma obra de ficção não é de todo novo. E o caso aqui não se refere à literatura como fonte de inspiração, mas, sim, aos afazeres da escrita, seus dilemas e conflitos. Recentemente tivemos filmes como As Palavras (2012), Ruby Sparks: A Namorada Perfeita (2012) e até o nacional Entre Nós (2013) discorrendo sobre esse temática e, a partir dela, elaborando algo novo e original. E neste nicho também se insere, como o título já indica de antemão, o thriller Romance Policial, um exercício interessante em sua premissa, porém que falha em atingir plenamente o potencial esperado justamente por se prender de modo exagerado dentro dos  não o desmerece por completo, apenas ressente-se por não ir além do prometido.

O protagonista de Romance Policial é Antonio (Daniel de Oliveira, correto), um funcionário público sem grandes expectativas ou vivências. Ele trabalha no departamento de registro de direitos autorais, e uma das suas obrigações é receber os originais de autores em atividade. Logo no começo do filme o acompanhamos caminhando pela cidade do Rio de Janeiro, no meio da multidão, meio que sem rumo, indagando-se a respeito do destino de um ou outro transeunte. Questionamentos internos que fomentam a criação pessoal. Porém, o que percebemos é que o personagem está enfrentando um bloqueio, e sua busca desesperada é por uma inspiração que o faça superar essa dificuldade. Venha de onde tiver que ser.

É também por isso – mas, acima de tudo, movido por uma necessidade de se encontrar consigo mesmo – que Antonio coloca uma mochila nas costas e decide, literalmente, cair no mundo. O mais longe que consegue ir é o Deserto de Atacama, no Chile. Será lá, isolado de tudo e todos, que encontrará a história que precisa ser contada. Ainda que, inevitavelmente, seu envolvimento com estes fatos seja de forma tão profunda que, por maior que seja a necessidade de um distanciamento para que o relato seja fiel e não influenciado por um ou outro ponto de vista, será impossível evitar um certo grau de comprometimento. Afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto, já dizia o velho ditado.

O mistério que circunda os principais personagens de Romance Policial é intrigante, porém somente até certo ponto. Ao chegar numa pequena cidade, Antonio se depara com um cadáver que, inesperadamente, vem a ser o mesmo homem que lhe deu carona no dia anterior – um dos motivos que o fazem ser o principal suspeito do crime. Mas há ainda a dona do bar local, com quem ele desenvolve um relacionamento – e que, sem seu conhecimento, também estava ligada ao defunto. O mesmo pode ser dito do policial encarregado das investigações e de uma velha índia, aquela dos clichês que “tudo sabe, tudo vê”. Quando uma foto que coloca todos estes tipos no mesmo cenário aparece, a pista para uma resolução satisfatória indica o caminho a ser seguido em busca de sua inocência.

Daniel de Oliveira, um dos atores nacionais mais competentes de sua geração, cria sem muito esforço um protagonista envolvente, porém pouco ativo – ele é mais levado pelos acontecimentos do que, necessariamente, os provoca. Daniela Ramírez, que interpreta Florencia, segue bem pela dubiedade de seu personagem, porém de modo tão apático que pouco contribui para despertar interesse a seu respeito na plateia. Cabe aos coadjuvantes, Roxana Campos e Álvaro Rudolphy – ambos premiados no Cine PE 2014 – despertarem uma maior curiosidade, ainda que essa seja saciada de modo abrupto e sem grandes surpresas. Assim como os trabalhos anteriores do diretor Jorge Durán, Romance Policial parece possuir os elementos certos de um grande filme. Infelizmente, no entanto, a soma destes acaba resultando inferior a cada uma de suas partes. E quando a conclusão é essa, nem toda a boa vontade do mundo poderá remediar uma inevitável frustração.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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