Crítica

Comédia romântica classuda ou novelão arrastado e clichê? Esta parecer ser a grande dúvida ao fim de Romance à Francesa, produção do diretor Emmanuel Mouret, especialista no gênero que, desta vez, parece ter tropeçado em suas intenções. Mesmo com o clima leve e sensível que ele tenta imprimir nos seus protagonistas, a impressão é que os casos levantados no longa, já superficialmente, se resolvem de maneira tão afoita e rasa quanto seu desenvolvimento inicial. E com nem tantas risadas quanto promete.

capricho (3)

A história começa com o atrapalhado Clément (o próprio Mouret), que conhece e se apaixona de forma recíproca pela bela Alicia (Virginie Efira), uma estrela famosa de quem ele já era fã. Só que uma outra e nova atriz, Caprice (Anaïs Demoustier), aparece no meio para provocar novas emoções como amante do professor. Pra piorar a situação, o melhor amigo dele, Thomas (Laurent Stocker), começa a ter novos olhares para Alicia.

Do surgimento dos estereótipos iniciais (o namorado confuso, a diva fútil, a novinha sem noção e o amigo da onça), Mouret tenta expandir um pouco cada um de seus personagens, mas as camadas parecem não se sobrepor, especialmente as mulheres. O retrato é basicamente machista. Ainda que as duas aparentem ser fortes e decididas, cheias de posicionamento e opiniões arrebatadoras, no fim elas parecem duas comadres brigando por causa de um homem – que, sinceramente, não faz quase nada de interessante por elas, tornando os motivos para gostarem dele ainda mais inconstantes. Tanto que a única conversa entre as duas se dá, justamente, por causa... de Clément. Como se este fosse o único ponto de convergência entre as duas. Ou seja, Caprice nem precisaria ser atriz para tornar este “conflito” tão acentuado.

Não ajuda também a escolha de tomadas fáceis e tediosas para as filmagens. A Paris aqui é extremamente plana, sem movimentações de câmera, tornando a cidade quase estática e, por consequência, sem aquela clima de paixão tão bem visto em outras produções – vale lembrar inclusive algumas fora da filmografia francesa, como Meia-Noite em Paris (2012) como melhor exemplo recente. Não é à toa a citação do longa de Woody Allen, já que Mouret é constantemente comparado ao cineasta norte-americano, seja pelos roteiros neuróticos ou pela similaridade das trilhas sonoras.

capricho (9)

Ainda assim, o elenco tenta reforçar as melhores características de seus personagens, tornando a tarefa de assistir ao filme mais palatável e menos constrangedora. Não que Romance à Francesa seja totalmente desprovido de qualidades, muito pelo contrário. O próprio protagonista, independentemente de sua falta de sex appeal, transmite o carisma natural de seu diretor e, ao contrário do que já foi dito sobre o machismo com as personagens femininas, ele foge de qualquer estereotipo do gênero. Porém, quem espera por grandes questões a respeito de amor, traição e lealdade, pode pular para o próximo título. Assim como começa, o filme termina - tão fugaz e sem consequências, apenas alguns sorrisos amarelos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *