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Sinopse

Enquanto encenam O Romance de Tristão e Isolda para o teatro, Ana e Pedro discutem coisas sobre o próprio relacionamento dos dois. As coisas se complicam quando Ana é convidada por um produtor para atuar em novelas.

Crítica

Quantas histórias de amor você já leu, viu, assistiu ou ouviu falar? Milhares, certo? Mas se voltarmos às origens, iremos perceber que algumas são universais, servindo de inspiração para todas as outras. E um destes textos clássicos é Tristão e Isolda. E é baseado neste enredo que se constrói, de forma muito criativa e original, o longa Romance, à volta às telas de Guel Arraes, em seu filme mais ousado e inventivo até o momento. Responsável por duas das maiores bilheterias do cinema nacional recente – O Auto da Compadecida (2000) e Lisbela e o Prisioneiro (2003) – ele ainda estava devendo aos cinéfilos uma obra mais autoral e, por que não dizer, ‘cinematográfica’ (afinal, todos os seus filmes anteriores nada mais eram do que meras transposições televisivas). E é justamente isso que consegue agora.

Pedro (Wagner Moura) é um ator e diretor de teatro. Para uma nova encenação de, obviamente, Tristão e Isolda, ele decide apostar numa atriz novata, Ana (Letícia Sabatella), por quem acaba, inevitavelmente, se apaixonando. Só que a peça é vista por um diretor de televisão (José Wilker), que a convida para estrelar uma novela. O sucesso dela acaba interferindo na relação com o namorado e colega de cena, e os dois terminam. Três anos depois se reencontram quando ela decide convidá-lo para dirigir um especial de TV, novamente tendo Tristão e Isolda como base. Só que ela mais uma vez irá se enamorar pelo Tristão, agora vivido por Orlando (Vladimir Brichta), o que irá provocar ciúmes não só no diretor, como também na namorada do ator, a produtora Fernanda (Andréa Beltrão). E no meio de tanta paixão, fica uma dúvida: para amar é preciso sofrer, ou ainda é possível um final feliz?

O melhor de Romance é o roteiro, habilmente construído por Arraes ao lado do colega Jorge Furtado. Os dois conseguem conciliar drama com comédia, suspense com encanto, novelão com tragédia. E se há alguns percalços de ritmo, como a necessidade de uma decupagem afiada e uma edição equilibrada, o mesmo não pode ser dito da bela fotografia de Adriano Goldman e da trilha sonora envolvente, dirigida por ninguém menos do que Caetano Veloso. Numa hora estamos dentro da peça, logo em seguida enfrentando ao lado dos personagens seus dilemas da vida ‘real’, para no instante após sermos jogados em um dinamismo que só mesmo a televisão poderia exigir. E esta alternância de situações colabora de forma decisiva na simpatia que se desenvolve entre os dois lados da tela.

Outro ponto que merece destaque é o desempenho do elenco, todos igualmente em grandes desempenhos. Moura e Sabatella possuem uma inegável química, e funcionam muito bem como protagonistas. Ela tem olhos dramáticos, e se sai com inegável excelência neste tipo de cena. Ele, por outro lado, alterna com tranqüilidade entrega e fúria, delicadeza e desprezo, bem de acordo com o que lhe é exibido. O timing cômico fica às custas de Wilker e Beltrão, os dois em ótimas atuações, valendo cada minuto em que aparecem. E por fim há ainda Marco Nanini, que rouba o espetáculo nas duas únicas cenas que possui. E se a história é boa, defendida por um time de atores acima de qualquer suspeita e com um diretor que sabe bem o que quer dizer, como o resultado poderia ser diferente? Romance é uma ótima pedida, um sinal de força em um ano em que o cinema nacional teve poucos bons momentos. Raros, porém memoráveis.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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