Crítica

Uma grande quantidade de dinheiro que cai nas mãos erradas e transforma a vida de pessoas comuns já rendeu premissas para filmes excelentes, ótimos, bons, razoáveis e ruins, como Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), Cova Rasa (1994), Caiu do Céu (2004), Trash – A Esperança Vem do Lixo (2014) e Reféns do Crime (2010), respectivamente classificados. Os primeiros minutos de Risco Imediato (2014) indicam uma construção interessante de suspense e a tentativa de reinventar uma desgastada fórmula, porém o resultado final da produção a garante uma posição especial na lista destacada entre os dois últimos títulos, sob as categorias “esquecível”, “rocambolesco” e “o que a roteirista estava pensando?”.

James Franco e Kate Hudson, numa incomum aposta de casting, interpretam Tom e Anna Wright, jovem casal que deixa o american dream para trás ao buscar novas perspectivas de vida em Londres. Enquanto ele se complica entre dívidas e sofre uma ameaça de despejo e ela compra sushi, um vinho caro e tenta engravidar, os dois descobrem 220 mil pounds – equivalentes a mais ou menos um milhão de reais – escondidos em sua casa pelo estranho inquilino que aluga o porão e que acaba de morrer de overdose. Antes de vibrar com o achado do casal e imaginar o que faria com tal bagatela, no entanto, o espectador é testemunha da origem do dinheiro: um roubo que prejudicou dois poderosos e letais traficantes de heroína.

Dirigido pelo dinamarquês Henrik Ruben Genz, em sua primeira incursão por uma grande produção internacional após a indicação ao Oscar pelo curta-metragem Irmão, Meu Irmão (1999), Risco Imediato tem uma introdução instigante, exaltada pela paleta de cores de uma Londres sempre enevoada – mérito da fotografia de Jørgen Johansson – e pelo promissor elenco, onde além dos bons moços de Franco e Hudson se destacam os vilões de Omar Sy e Sam Spruell e o detetive de Tom Wilkinson. Infelizmente, tais méritos logo parecem artifícios pouco suficientes para eclipsar o roteiro canhestro e infame assinado por Kelly Masterson, que desonra seu passado na condução dos textos elogiáveis de O Expresso do Amanhã (2013) e Antes que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (2007).

Baseada no livro de Marcus Sakey, Masterson se perde entre justificativas e motivos para estabelecer todas as relações entre seus personagens: o vilão pretende vingar seu irmão assassinado no assalto, o detetive pretende vingar sua filha morta pelas drogas vendidas por traficantes locais, o casal protagonista precisa se reconstruir depois de uma crise financeira, e por aí vai. Os atores, em dado momento, parecem completamente deslocados do que a narrativa propicia aos seus personagens, algo que fica evidente em sequências como a ambientada num parque, desconexa e irrelevante para o desenvolvimento da trama.

O desenrolar da produção se torna cada vez mais previsível e até mesmo risível, culminando numa sucessão de erros indicativos de que a roteirista nunca viu nenhum dos títulos apontados no primeiro parágrafo deste texto. O que deveria ser o clímax e a resolução das problemáticas tão primárias oferecidas pelo thriller logo se torna uma reimaginação supostamente adulta para as traquinagens defensivas de Macaulay Culkin contra os vilões de Esqueceram de Mim (1990).

A moral de Risco Imediato é simplista e redundante ao indicar que, quando encontrar dinheiro alheio, deixe ele onde estava ou o entregue para a polícia. Caso insista em investir numa terceira opção, assista a este filme para saber o que você não deve fazer.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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