Crítica

As animações nos últimos anos, especialmente do início do século XXI até agora, tem demonstrado preocupação com o meio ambiente, seja de forma mais profunda através de obras primas como Wall-E (2008) ou por um viés mais superficial, ainda que tocando no tema, como Rio (2011) e a quadrilogia A Era do Gelo. O novo filme dos estúdios Fox, Reino Escondido, bebe da mesma fonte e apresenta o mesmo problema através do fantástico. Porém, acaba sendo uma produção voltada muito mais aos pequenos e que pode gerar um pouco de decepção perante os adultos.

O título faz referência ao diminuto reino da natureza governado pela rainha Tara (Beyoncé Knowles) que está em constante guerra com o podre liderado por Mandrake (Christoph Waltz). No grande evento do século, algo dá errado devido ao intenso conflito e uma adolescente humana, MK (Amanda Seyfried) - que recém perdeu a mãe e vai morar com o pai, um cientista maluco que não dá bola pra ela -, acaba encolhendo de tamanho e vira guardiã do novo botão, que simboliza a sucessão da rainha. É claro que, neste interim, os inimigos da natureza não vão deixar tudo barato.

Realizado pelo mesmo diretor de A Era do Gelo (2002) e Robôs (2005), e também produtor de Rio, Reino Escondido peca pela ingenuidade da trama. A natureza e a decomposição surgem mais como arquetipos de bem e mal do que como referência à degradação do meio ambiente pelo homem. Ao invés de retratar o ser humano como principal causador da poluição e afins, ele surge como o grande salvador. Sendo que qualquer adulto sabe que a realidade é muito diferente disso.

Porém, se no campo filosófico o tema pode parecer banal (o que também não é um fator determinante para o sucesso do longa, já que, apesar do meu desejo neste caso, o cinema de entretenimento não tem a obrigação ou intuito de ensinar), é em sua técnica que o filme nos conquista. A natureza é linda no seu verde em diversos tons, seja pelas paisagens, através das folhas das árvores e do gramado ou no uniforme dos combatentes do lado heróico. Além de tudo, os personagens são extremamente cativantes, desde a rainha sem noção de Beyoncé até os heróicos Ronin (Colin Farrell) e Nod (Josh Hutcherson), passando pela divertida dupla lesma e caracol.

Ponto também para a ciência aplicada na narrativa: poucas vezes se vê no cinema a diferença de velocidade entre objetos maiores (no caso, os humanos) em relação aos insetos. Tanto que em uma cena específica, o diálogo entre filha (encolhida) e pai (mil vezes maior que ela), o resultado chega a ser hilário, já que o cientista fala normalmente para o público, mas a filha entende tudo em slow motion. O mesmo acontece para uma explicação interessante sobre a comunicação dos morcegos e que acaba sendo peça chave para o clímax.

Quando as luzes se acendem, Reino Escondido mostra, definitivamente, que a linha de animação da Fox é apenas entreter sem pisar em ovos. A criançada vai adorar, querer bonequinhos dos personagens e brincar de arco e flecha, enquanto os adultos vão sair com um sorriso no rosto e maravilhados com o espetáculo visual. Um filme inocente, assim como seu público-alvo. E, às vezes, isto está mais do que bom.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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