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Sinopse

Desde que ficou viúva, uma psicóloga infantil vive em uma casa isolada na zona rural do estado da Nova Inglaterra, nos EUA. Durante um inverno rigoroso, ela precisa encontrar uma maneira de resgatar um misterioso menino, em meio a uma severa tempestade de inverno.

Crítica

À primeira vista, o maior crime deste longa-metragem é a mediocridade. O primeiro ato estabelece o que parece ser um thriller esquecível e praticamente idêntico a uma porção de outros exemplos do gênero, mas que ainda promete certo clima de tensão, alguns sustos e uma revelação chocante no clímax. Conforme a narrativa caminha, entretanto, Refém do Medo, demonstra ser bem pior que um simples suspense formulaico: é um filme ineficiente em quase todos os aspectos, com uma infinidade de clichês, um desenrolar tão tedioso que mal pode ser chamado de enredo e um desfecho ridículo o suficiente para minar qualquer intenção de levar esta obra a sério.

Naomi Watts faz o que pode no papel de Mary Portman, psicóloga especializada em crianças que tenta lidar com o trauma após o acidente de carro que mata seu marido e coloca seu enteado (Charlie Heaton) em estado vegetativo. Sob os cuidados de Mary está o pequeno Tom (Jacob Tremblay), menino deficiente auditivo e aparentemente órfão, que desaparece misteriosamente depois de uma visita à casa de Mary.

Embora Watts mereça crédito por conseguir conferir alguma dimensão à personagem principal, o bom trabalho da atriz é incapaz de compensar o desenvolvimento tedioso da primeira hora de projeção. Com um número irritante de jumpscares baratos, que servem apenas para impedir que a audiência durma, a maior parte do filme é composta de uma série de acontecimentos “sinistros” e aparentemente desconexos, ao invés de pistas que vão escalando até o clímax, demonstrando que o diretor, Farren Blackburn, não faz a menor ideia de como construir suspense. Em alguns momentos, o enredo quer nos convencer de que há um componente sobrenatural, enquanto noutros indica que tudo é fruto da imaginação de Mary, com numerosas cenas de sonho que existem simplesmente para encaixar imagens impactantes e sem consequência para a história.

A grande reviravolta – esta é uma obra que promete plot twist desde o primeiro segundo – é extremamente previsível no que diz respeito à identidade do real antagonista, mas suas intenções e motivações, convenientemente expostas num doloroso monólogo, soam tão absurdas que realmente podem pegar o espectador de surpresa. Quase todos os personagens secundários apresentam performances que deixam a desejar, mas a exagerada atuação do vilão é, com certeza, a pior de todas, repleta de trejeitos caricatos que dificilmente inspiram terror.

Além de conter uma série de furos, o roteiro parece, ainda, não saber o que fazer com certos personagens. A presença do recém-revelado Jacob Tremblay, por exemplo, sugere que o roteiro dará ao pequeno talento a chance de brilhar em algum momento. A Tremblay, entretanto, não é dada uma única linha de diálogo e o personagem tem, na história, a mesma serventia de um objeto inanimado. A surdez do menino, reforçada no início do filme, também acaba servindo a propósito nenhum – detalhe que parece ser esquecido completamente no terceiro ato, quando Mary passa a se comunicar com o garoto apenas por sussurros. É difícil não questionar, então, a decisão de escalar um jovem ator vencedor de um Critics’ Choice Award para um papel que poderia ser interpretado por absolutamente qualquer garotinho do planeta.

Há filmes que, mesmo com uma péssima execução, merecem algum reconhecimento pela originalidade que apresentam e ideias que carregavam potencial. Este, infelizmente, não é o caso. Refém do Medo pode ser tecnicamente decente e contar com uma boa atuação central, mas soa demais como uma tentativa malsucedida de emular outros filmes do mesmo tipo. O resultado é uma obra morna, que passa longe de ser boa, mas ainda se leva a sério demais para alcançar o status de “tão ruim que chega a ser bom”.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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