Rebobine, Por Favor
Crítica
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Sinopse
Jerry (Jack Black) trabalha num ferro-velho e tem muitas dores de cabeça. Ele acha que isso é por causa da rede elétrica que passa ali. Seu plano para sabotar as instalações dão errado e, para piorar, seu cérebro fica magnetizado. Isso faz com que ele destrua todos os filmes disponíveis na locadora de seu amigo (Mos Def). Para satisfazer a cliente mais leal da loja, uma senhora idosa, Jerry e o amigo contam com a ajuda da população da cidade e recriam as principais cenas e diálogos de filmes como O Rei Leão, Rush Hour, Ghostbusters, Quando Éramos Reis, De Volta para o Futuro, Conduzindo Miss Daisy e Robocop, entre muitos outros. A dupla então se torna as maiores estrelas da vizinhança.
Crítica
Rebobine, Por Favor é um filme de uma piada só. Mas esta é tão original e curiosa que acaba sustentando toda a duração da trama. O interesse gerado pela história de dois idiotas que acidentalmente apagam o acervo de uma videolocadora e decidem refilmar por conta própria alguns dos maiores sucessos do cinema é tão grande que é quase impossível que qualquer apaixonado por cinema ignore esta produção. Porém, assim que o longa vai se desenvolvendo, percebemos que se trata de algo ainda maior e profundo, não tão cômico quanto se poderia esperar, mas muito mais sentimental e comovente. Esta é, na verdade, uma tocante história de amor pela sétima arte.
Jack Black (King Kong) e Mos Def (O Guia do Mochileiro das Galáxias) são dois jovens sem muitas perspectivas numa pequena cidade no interior dos Estados Unidos. O primeiro trabalha num ferro velho próximo a uma usina elétrica. Um acidente o deixa magnetizado, e ao ir visitar do trabalho do amigo, uma antiga e resistente videolocadora, acaba, sem se dar conta, destruindo todo o conteúdo das fitas VHS do local. Para não perder a pouca clientela, eles decidem criar suas próprias versões de filmes como Os Caça-Fantasmas, Robocop e Conduzindo Miss Daisy, gerando resultados simplesmente hilários de tão absurdos. E o acidente acaba se transformando na salvação deles, com um sucesso que irá repercutir nacionalmente. Só que tanto alarde em cima das refilmagens irá despertar a atenção até de Hollywood, que em busca dos seus direitos autorais poderá colocar tudo a perder. A não ser, é claro, que a comunidade se una e faça algo a respeito.
Dirigido por Michel Gondry – que, inclusive, esteve no Brasil no final do ano passado para o lançamento deste filme –Rebobine, Por Favor não possui o mesmo refinamento estético dos longas anteriores do cineasta, os inventivos e exóticos Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e Sonhando Acordado. Mas contém sua dose habitual de criatividade, aliada a uma delicadeza de sentimentos que envolve e ilumina. No final das contas, a ideia de mostrar versões artesanais de filmes muito populares funciona para mostrar como a fantasia da sétima arte está ao alcance de todos, e o que importa no final é a nossa capacidade – ou falta dela – de sonhar.
Se Black e Def se saem muito bem como protagonistas – praticamente interpretando a si mesmos – entre os coadjuvantes é onde estão os verdadeiros destaques. Danny Glover, como o dono da loja, mostra ter deixado o cinema de ação mesmo no passado, e está abraçando com muita dignidade o passar dos anos (como visto também em Dreamgirls). Mia Farrow, apesar de estar um tanto afastada, continua sendo um ‘ser cinematográfico’, alternando momentos de extrema fragilidade e alienação ou outros de muito determinismo e objetividade. Assim como Sigourney Weaver, que não tem encontrado bons papéis, mas que mesmo numa pequena participação revela um vigor há muito sentido.
Divertido e carismático, Rebobine, Por Favor acaba com um gosto um pouco amargo, mas não o suficiente para prejudicar a percepção geral da obra. Utópico, saudoso e um pouco maluco, provoca identificação imediata no espectador – quem nunca imaginou, ainda que como criança, em voar como o Super-Homem ou em protagonizar grandes aventuras policiais como nos filmes do gênero? Mas também provoca reflexão, sem ser didático, e comove sem exagerar no melodramático. E, acima de tudo, confirma Gondry como um talento acima da média, um dos poucos verdadeiros “autores” do cinema mundial.
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