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Sinopse

Duas melhores amigas juntam-se para um final de semana na casa do lago, a fim de ajudarem-se em seus problemas. Porém, ambas acabam desenterrando outros conflitos que vão deixar tensas as coisas na relação entre as duas e no seu plano de isolamento.

Crítica

O cineasta norte-americano Alex Ross Perry já é apontado como um genuíno autor em construção, no melhor sentido do termo francês cunhado pelos enfants terribles da Nouvelle Vague. Desde seu primeiro longa-metragem destacam-se recursos de um cinema que olha para o passado, transformados em homenagens que vão desde sua abordagem estética e idearia ao modo que captura cada detalhe de grandes e densas performances. Rainha do Mundo não foge ao espírito do diretor, que desta vez experimenta os códigos do thriller dramático enquanto dialoga com Ingmar Bergman, John Cassavetes e Roman Polanski.

Retrato intimista de duas amigas muito dependentes, ainda que autodestrutivas, Rainha do Mundo acompanha Catherine (Elisabeth Moss) à beira de um colapso nervoso e psicológico após o suicídio de seu pai, um artista renomado ao qual ela servia como assistente, e o término de um longo e simbiótico relacionamento. Dedicada à sua recuperação, ela decide se isolar na remota casa de campo de sua amiga de infância, Virginia (Katherine Waterston), que se esconde no local para fugir da alienação de sua realidade pseudoaristocrática.

Debruçado sobre a complexidade do universo feminino, Perry não se intimida ao retratar suas protagonistas nos limites entre histerismo e entorpecimento, num flerte direto com Repulsa ao Sexo (1965) e Três Mulheres (1977), de Robert Altman. Nos constantes closes propostos pela fotografia de Sean Price Williams, as expressões de Moss e Waterston se fundem em enquadramentos oriundos de Persona (1966), que ressaltam a ligação entre mulheres que são duas partes de um todo; assim, sua ligação e complacência parece tanto as fortalecer como as destruir.

Sempre aliado a uma textura que grita celuloide a cada frame, Perry é defensor purista das possibilidades do filme e nunca trabalhou com o digital. Capturado integralmente em Super 16mm, Rainha do Mundo é carregado de cores e camadas que favorecem uma atmosfera clássica dos anos 1970, o que muito colabora na construção de clima e ambientação perfeitos para este enredo. Como em Cala a Boca Philip (2014), o ambiente aparentemente idílico é a contraposição para os personagens, repletos de neuroses e dilemas existenciais que direcionam a narrativa.

Como haveria de ser, muito da produção é explicitado a partir de longos diálogos que não necessariamente representam o interior de suas protagonistas – algo explicitado muito melhor pelas nuances e maneirismos das atrizes. Próximo da teatralidade de um roteiro que privilegia atores e texto às outras camadas do filme, numa sequência de dez minutos a câmera estática apresenta Catherine e Virginia numa demorada autoanálise, onde refletem sobre as armadilhas de relacionamentos abusivos e ciclos destrutivos da vida adulta. Aos poucos, elas se dão conta que o relacionamento que compartilham é um destes; uma relação fadada a revelar as verdadeiras origens de suas maiores frustrações.

Em uma visceral interpretação, completamente compromissada com as particularidades de uma mulher desequilibrada emocional e fisicamente, Elisabeth Moss entrega uma performance singular, diferente de tudo o que sua versátil e jovem carreira contempla. Esqueça todas as vertentes da inesquecível Peggy da série televisiva Mad Men (2007-2015) e até mesmo de suas incursões pelo cinema indie, como no recente Complicações do Amor (2014). É óbvio que Perry ficou extasiado pela magnética participação da atriz em Cala a Boca Philip e decidiu repetir a parceria num filme que fosse integralmente dela. Katherine Waterston, que comprovou recentemente seu potencial dramático em Vício Inerente (2014), não se esconde atrás de Moss e também se destaca, numa abordagem naturalista e poderosa que beneficia a dinâmica entre as atrizes – garantindo assim o equilíbrio essencial para o êxito do filme.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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