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Sinopse

Nadine enfrenta uma difícil situação desde que sua melhor amiga, Krista, começou a namorar seu irmão mais velho. A estudante se sente sozinha, ao menos até começar uma amizade com alguém que lhe dá atenção.

Crítica

Se Gatinhas e Gatões (1984) ganhasse uma refilmagem pautada nos atuais dilemas da adolescência feminina ela certamente seria muito bem representada neste Quase 18. Comédia dramática que marca a estreia na direção da roteirista Kelly Fremon Craig, a produção reinterpreta os códigos do humor juvenil oitentista numa trama agridoce amparada, principalmente, pelo texto afiado e na encantadora performance de Hailee Steinfeld.

Ora abraçando e ora desviando dos paradigmas das narrativas sobre amadurecimento, que evidenciam as agruras da transição entre adolescência e a aproximação da vida adulta, Quase 18 acompanha Nadine (Steinfeld) e seus conflitos como uma garota pouco popular e sem muitas motivações além de incomodar seu professor de história, Sr. Bruner (Woody Harrelson, divertidíssimo), e suspirar por uma paixão platônica não-correspondida. Sua rotina seguia razoavelmente bem até que sua única e melhor amiga desde a infância, Krista (Haley Lu Richardson), se envolve romântica e sexualmente com seu irmão mais velho e a estrela do colégio, Darian (Blake Jenner, do recente Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!, 2016).

A atmosfera afável e o humor espirituoso no roteiro de Craig denotam também a assinatura do produtor James L. Brooks, realizador premiado com o Oscar por Laços de Ternura (1983) que ainda tem no currículo Melhor é Impossível (1997) e é um dos criadores por trás de Os Simpsons. O trabalho de Brooks e John Hughes figuram como inspirações evidentes em Quase 18, perceptíveis na seriedade com que o filme aborda assuntos ordinários e os traduz, com sagacidade, em situações cômicas e facilmente relacionáveis. É louvável ainda perceber o cuidado com que os personagens são tratados e desenvolvidos, tanto pela cineasta quanto por seus respectivos intérpretes, expondo facetas e idiossincrasias que os tornam tão profundos quanto críveis.

Muito longe do humor de banheiro que fez escola a partir das franquias Porky’s (1981) e American Pie (1999), Quase 18 segue os preceitos de Juno (2007) e As Vantagens de Ser Invisível (2012) enquanto reflete com importância temas frequentes e universais com inventividade e ótimos diálogos. Como protagonista, Nadine é egoísta, autodepreciativa, exagerada e soa como uma legítima adolescente, muito distante daquele modelo de colegiais que pensam, falam e são interpretados por adultos, algo que dava o tom das comédias juvenis dos anos 1990, como Ela é Demais (1999) e 10 Coisas Que eu Odeio em Você (1999). A garota sonha com um garoto com cara de roqueiro indie que sequer percebe sua existência, mas seu interesse amoroso acaba nas mãos de seu atrapalhado amigo asiático Erwin (Hayden Szeto) – referência ao Dong de Gatinhas e Gatões detectada!

Hailee Steinfeld já demonstrava seu potencial desde a indicação ao Oscar por Bravura Indômita (2010), com méritos pela versatilidade em papeis como os de Mesmo se Nada Der Certo (2013) e Dívida de Honra (2015), mas alcança novos feitos como Nadine. Indicada ao Globo de Ouro como Melhor Atriz, a jovem de 20 anos tem um talento natural para se adaptar a qualquer realidade – seja num faroeste norte-americano ou em uma dramédia juvenil. Ao seu lado também se destaca a performance de Kyra Sedgwick como sua mãe, Mona, que parece mais imatura que os próprios filhos enquanto se desventura por romances online e desvia das suas funções como mãe viúva.

Longe de suas pretensões, Quase 18 pode não ser o filme mais inventivo dos últimos tempos, mas definitivamente imprime uma qualidade única ao projetar a alienação juvenil e o medo que ela oferece. Próximo da profundidade de Ghost World: Aprendendo a Viver (2001), eis um daqueles pequenos grandes filmes para admirarmos com o coração aberto.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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