Crítica


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Sinopse

Uma família fica presa numa região praticamente deserta da Califórnia, nos Estados Unidos, quando tem um problema com seu trailer. Tudo fica ainda pior quando figuras estranhas vindas das montanhas a persegue.

Crítica

A caminho das férias na Califórnia, os Carter, típica família classe média norte-americana, decidem fazer uma pausa para visitar uma antiga mina de prata. O dono do posto local de combustível os aconselha a seguir viagem sem mais paradas. Mesmo advertidos, eles insistem até que um acidente enguiça seu carro no meio do deserto. As colinas que os circundam têm olhos, como expresso no título original de Quadrilha de Sádicos, filme em que o diretor Wes Craven contrapõe o primitivismo de uma comunidade erma com a aparente civilidade dos forasteiros. O líder da gangue que habita os veios rochosos já nasceu mau, segundo relato de seu pai, ou seja, é fruto da própria ruindade. Já os seguidores não. São todos corrompidos, crianças de quem, ainda de acordo com o velho, ninguém sentiria falta. É uma turma de selvagens que come cachorros e veem um bebê como ideal para saciar seu canibalismo.

O pai da família encalhada é um policial aposentado. Ele é o primeiro a sucumbir diante do próprio excesso de confiança. Ignorante quanto aos perigos, deixa os seus desprotegidos para procurar ajuda. Encontra um corpo inerte e o assassino que fará dele vítima de algo muito próximo do ritual da crucificação, com direito a pregos nas mãos e tudo. A partir daí, o que Wes Craven apenas sugeria com a aparição de uma sombra aqui outra acolá, de vozes ameaçadoras no extracampo, ganha ares de terror palpável, com sangue e vísceras em abundância. Não há para onde fugir, a comunicação não funciona, os citadinos estão realmente encurralados naquele deserto que transpira morte por todos os poros. O massacre é inevitável, e ele vem derrubando um a um, acabando com aquela gente, em princípio, pacata.

Na falta de heróis humanos, quem se destaca é o cachorro de estimação. Craven estabelece algumas relações entre a lei e a desordem. Os sádicos que descem a montanha para estripar seus alvos são sintomas, o efeito colateral extremado de uma violência inerente aos Estados Unidos desde o período expansionista. Aliás, a real protagonista do filme é a barbárie. Protegidos moralmente pelo conceito de legítima defesa, os cidadãos acossados pelos estranhos reagirão à altura. O único elemento datado de Quadrilha de Sádicos é a maquiagem, sobretudo a do líder dos capangas com nomes de planeta, algo que percebemos já no primeiro close das cicatrizes mal acabadas. Há muita engenhosidade na maneira como Craven filma. Visivelmente pressionado pelo baixo orçamento, ele faz da restrição um motivo para pensar soluções criativas.

Há um crescendo de brutalidade em Quadrilha de Sádicos, até que não saibamos mais quem deve temer quem. O instinto materno de uma das mulheres de Papa Júpiter (James Whitworth) dá sobrevida ao bebê raptado, propiciando uma briga feia entre o pai desesperado e o raptor faminto. Não à toa, Wes Craven termina o filme de maneira abrupta, logo após alguém perder a civilidade. Nos olhos do homem aparentemente muito distante de seus algozes, assim como na alegria dos jovens que antes haviam acabado com outro dos “vilões”, está a tendência humana à bestialidade. Não interessa o que vai acontecer depois – embora o diretor tenha filmado uma sequência oito anos mais tarde –, já que, para além da trama pura e simples, está a radiografia do flerte constante do cidadão socialmente enquadrado com seu lado mais sombrio.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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