Crítica

Três adolescentes. Final de ano. Todos verdadeiros losers, perdedores, sem a menor popularidade na escola. Tudo o que querem é beber e fazer sacanagem. Quem sabe, com sorte, beijar a menina mais bonita da classe. Daí os pais de um deles resolvem viajar no fim de semana, deixando a casa sob os cuidados do filho – que, obviamente, não irá cuidar de nada. Chamam todos os amigos – que não são muitos – e, principalmente, qualquer um que cruze no caminho deles entre o colégio e o lar, torcendo pra que os convidados apareçam e a festa não seja um fracasso. No final, após um período de tensão – eles vem ou não? – a turma chega, garotas se oferecem, alguns serão mais desinibidos do que outros, drogas surgem, muitos terminam vomitando e a balada será inesquecível. Se fosse só isso, Projeto X – Uma festa fora de controle seria apenas mais um dentre inúmeros títulos com exatamente o mesmo argumento. Mas, felizmente, aqui temos muito mais.

As diferenças começam logo pelo estilo adotado: o falso documentário, quando um personagem fica o tempo todo com uma câmera na mão, como se estivesse fazendo um registro pessoal dos eventos. É o mesmo que vimos no recente – e inferior – Poder sem Limites ou em outros longas mais badalados, como A Bruxa de Blair (1999) ou a trilogia Atividade Paranormal (2007 – 2010 – 2011). Esse recurso, apesar de estar se tornando um pouco batido devido ao uso exagerado e desnecessário, aqui se encaixa perfeitamente. Nos aproximados dos protagonistas e a sensação que temos é de estarmos, literalmente, vivendo a prometida festa. A questão é que ninguém está preparado para o que irá acontecer.

Durante os dois primeiros terços de Projeto X não nos é apresentado absolutamente nada de novo. É mais do mesmo, sem surpresas ou destaques. A diferença, no entanto, está nos personagens, que apesar de serem estereótipos da ponta dos pés ao último fio de cabelo – o tímido apaixonado, o gordo nerd e o amigo sem-noção – se comportam com tamanho naturalismo que é impossível não se identificar. Todo mundo já passou pelo que esses garotos estão vivendo, em diferentes graus de intensidade. Mas o filme muda de figura na meia hora final. É neste momento em que, num golpe completamente inesperado – mesmo que todos os elementos participantes tenham sido antecipados e anunciados – tudo aumenta de proporção. Drogas, sexo, nudez, descontrole, orgias, badernas, insanidade, luxúria, violência, desejo, alucinação, intensidade: mesmo a soma de todos estes elementos ainda é limitada diante dos acontecimentos que se sucedem. E é neste passo até onde ninguém havia tido coragem de ir antes que o público é conquistado de forma irreversível.

Como a maioria dos nomes envolvidos são de notórios desconhecidos – no elenco, os únicos que escapam à regra é Miles Teller, que viveu o garoto responsável pelo drama enfrentado por Nicole Kidman em Reencontrando a Felicidade (2010), e o anão Martin Klebba (Piratas do Caribe), que responde por algumas das cenas mais cômicas de todo o filme – talvez o maior mérito aqui seja do produtor Todd Phillips (diretor de Se Beber Não Case, 2009 e 2011, e Um Parto de Viagem, 2010), que apostou nos novatos certos na melhor hora possível. Juntos fizeram uma obra que redefine esse subgênero “adolescentes ensandecidos”, ousando na medida certa para não resvalar no mau gosto e falando de forma apropriada a linguagem necessária. Curioso, no entanto, é o fato de Projeto X ser permitido apenas para maiores de 18 anos. Ou seja, ninguém na plateia terá a mesma idade dos personagens, que estão na faixa dos 16 e 17 anos. O que não quer dizer, por outro lado, que o que está na tela não servirá como uma boa fonte de recordações – e de futuras inspirações!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *