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Sinopse

Em 1959, um grupo de alunos desenha o que lhes parece uma ideia de futuro, a fim de que essas amostras sejam guardadas numa cápsula do tempo. Nos anos 2000, quando da abertura do artefato, um professor de astrofísica observa um dos papeis contendo números aparentemente aleatórios e percebe tratar-se de uma mensagem codificada que prediz datas e números de mortos de cada uma das grandes tragédias ocorridas nos últimos 50 anos.

Crítica

Nem sempre crítica e público andam de braços dados – aliás, na maioria das vezes um tende a discordar do outro. Mas em filmes como Presságio essa discordância fica ainda mais evidente: apesar de ser um sucesso de bilheteria, no geral não passa de um remendo de elementos já vistos em várias outras produções similares. E esse é o maior problema deste veículo para o astro Nicolas Cage – não há absolutamente nada de novo! Tudo já foi visto antes, e se o diretor Alex Proyas tem o mérito de conseguir prender a atenção do espectador por boa parte da trama, no final a única coisa que se salva são as impressionantes cenas de catástrofes, que são realmente de tirar o fôlego de qualquer um. Pena que elas parecem ser jogadas, sem preparo nem aviso, no meio de um enredo que combina ficção científica, suspense, ação e terror sobrenatural, para encerrar com uma mensagem utópica e pacifista. Um verdadeiro balde de água fria.

Cage – que já há um bom tempo desistiu de ser um ator de verdade e só vem se metendo em bobagens desta categoria – é um professor, e pai de um garoto pré-adolescente, atormentado pelo recente falecimento da esposa. Na escola do menino, há cinqüenta anos, foi enterrada uma ‘cápsula do tempo’, em que cada criança poderia mandar uma mensagem para o futuro. Meio século depois, estes recados são desvendados, e o papel que cai nas mãos do garoto contém apenas uma longa sequência de números. O pai, meio que por acaso, acaba descobrindo que ali estão uma série de trágicas previsões, contendo as datas dos incidentes, a quantidade de mortos e as coordenadas dos locais onde estes eventos acontecem. Todos os maiores desastres da humanidade que ocorreram nas últimas cinco décadas estão ali apontados. E, pela lógica dele, há ainda três calamidades a acontecer. E ele fará de tudo para evitá-las.

Claro que, por mais herói de filme hollywoodiano que pretenda ser, Nicolas Cage tenta infiltrar seus já escassos dotes dramáticos – e pensar que este homem tem um Oscar! – no meio de correrias e explosões. E, curiosamente, estes são os momentos em que Presságio acaba valendo à pena. A queda do avião e o descarrilhamento dos trens no metrô estão entre as duas cenas mais assustadoras e fantásticas do cinema recente. A primeira, então, chega a arrepiar pelo incrível plano sequência em que foi construída – sem um único corte, acompanhamos do olhar estarrecido dos personagens aos céus, quando a aeronave irrompe com toda força em direção ao solo, para se desfazer em diversos pedaços e chamas, tendo continuidade com os poucos sobreviventes se levantando aos gritos entre fogo e escombros. De deixar qualquer um abismado.

Mas Presságio dá a impressão de querer ser mais do que realmente é. E é neste ponto em que reside sua maior falha. Se não fosse tão ambicioso, provavelmente seria mais eficiente enquanto diversão e mais competente em atingir os resultados propostos. Sem conseguir se definir, começa como drama sobrenatural, logo vira thriller de suspense, para escorregar no cinema-catástrofe e na invasão alienígena, encerrando como manifesto ecológico. Uma salada que atira para todos os lados e acerta poucos alvos. Outra infeliz coincidência é o lançamento tão próximo a de outro filme com temática muito similar, porém com intenções mais declaradas: a nova versão de O Dia Em Que a Terra Parou (2008), com Keanu Reeves. Os dois parecem quase serem versões da mesma história. E a repetição de temas não é feliz em nenhum dos casos.

Numa temporada fraca de boas estreias, Presságio entrou em cartaz nos Estados Unidos em primeiro lugar nas bilheterias, arrecadando de largada quase a metade do seu orçamento, que foi de US$ 50 milhões (não tão alto para um projeto deste porte). Mas baseando-se quase que integralmente no carisma um tanto apagado do protagonista e num enredo que pouco acrescenta ao gênero, o filme deixa claro que quando há vontade de tratar de assuntos mais sérios é preciso saber como proceder nestes casos. Afinal, de boas intenções o inferno está cheio.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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