Crítica


7

Leitores


8 votos 9

Onde Assistir

Sinopse

Frank Abagnale Jr. conseguiu juntar a fortuna de US$ 2,5 milhões falsificando cheques. Com um obstinado agente do FBI no seu encalço, ele terá que usar todas seus artifícios para conseguir sair ileso mais uma vez.

Crítica

A história é, por si só, fantástica demais para ser verdade: em apenas cinco anos (dos 16 aos 21, o que é ainda mais impressionante), Frank Abagnale Jr. fingiu ser piloto de avião, médico e advogado, além de passar mais de 4 milhões de dólares em cheques sem fundos, nos 50 estados norte-americanos e em 26 países diferentes ao redor do globo. E tudo isso com relativo sucesso, pois só foi descoberto devido à fraude financeira. Após ser preso, não chegou a cumprir toda a sua pena na prisão: o próprio FBI o soltou, sob custódia, para trabalhar ao seu serviço – afinal, não é todo o dia que se depara com uma mente tão genial e incrivelmente esperta como essa. Pois bem, esse relato não só é verídico como virou um livro que, após cair nas graças do maior diretor de cinema da atualidade, Steven Spielberg, foi levado aos cinemas com imenso sucesso de público e de crítica.

Prenda-me se for capaz, aliás, é também um dos longas mais 'pé-no-chão', por assim dizer, de toda a carreira de Spielberg, o homem que trouxe ao mundo alguns dos maiores clássicos do cinema-pipoca. Profissionais como Mike Nichols, Barry Levinson ou Cameron Crowe (que chegou realmente a estar envolvido no projeto em algum momento) poderiam realizá-lo com igual perfeição. Assim, nada de esperar grandes arroubos visuais, planos mirabolantes, edição frenética ou um roteiro épico. Mas também não há espaço para decepção: é entretenimento de primeira qualidade. Se não chega a ser grandioso como A Lista de Schindler (1993), ao mesmo tempo não abusa da tecnologia ou dos efeitos visuais de um A.I.: Inteligência Artificial (2001). Trata-se de um filme simples, bem feito e tecnicamente perfeito, mas sem arroubos de originalidade. Não decepciona, mas também não chega a ser memorável.

Os pontos positivos são largamente superiores às considerações contrárias. Começando pelo próprio trabalho de Spielberg – que deve ter encarado tudo como “férias” – ao elenco principal, em perfeita sintonia. Não há opção melhor para o papel de Abagnale do que Leonardo DiCaprio, num desempenho irrepreensível. Seu colega de cena, Tom Hanks, como o agente do FBI Carl Hanratty, o eterno perseguidor do notório falsário, está divertidamente cômico, trabalhando uma faceta sua que desde Uma Equipe Muito Especial (1992) andava meio esquecida. E Christopher Walken, indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante por sua atuação como o pai Frank Abagnale, impressiona por se encontrar numa persona completamente diferente do seu tipo habitual: ao invés de encarnar um maníaco homicida psicopata sanguinário frio e calculista qualquer, ele dá vida a um homem fracassado, que perde sua mulher para o amante dela e mesmo assim não consegue enxergar o mal. A cena no restaurante entre ele e o filho é irretocável.

Ainda falando sobre as atuações, é de prestar atenção também nas aparições de Martin Sheen (O Espetacular Homem-Aranha, 2012), Ellen Pompeo (do seriado Grey’s Anatomy, 2005-), Nathalie Baye, Jennifer Garner e uma até então desconhecida Amy Adams, antes de todas as suas indicações ao Oscar. A trilha sonora de John Williams, também lembrada pela Academia, está muito bem adequada, e o roteiro, baseado no livro do próprio Abagnale, funciona à contento com todas as suas reviravoltas, apesar de alguns deslizes – nem sempre a vida real é, como todos sabemos, tão verossímil assim, então alguns ajustes precisaram ser feitos na transposição para a tela grande. Mudanças essas que, se ganham em agilidade, perdem em credibilidade.

Prenda-me se for capaz é um produto de entretenimento competente e divertido. Poderia-se considerá-lo como uma versão leve e descompromissada de O Fugitivo (1993). No entanto, é inevitável considerá-lo um trabalho “menor” dentre um currículo tão repleto de obras inesquecíveis. Mas afinal, todo mundo precisa se divertir de vez em quando, não? E o que pode ser melhor do que fazer desse lazer diversão também para milhares de pessoas? Somente Spielberg poderia mesmo realizar esse intento com tamanha destreza.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *