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Sinopse

A amizade entre um garoto de cinco anos de idade e uma princesa de peixes dourados que se tornou humana.

Crítica

Não são de hoje as comparações entre Walt Disney e o artista japonês Hayao Miyazaki. Ambos colocaram sua visão muito particular em seus trabalhos e deram coração a figuras que existiam apenas no papel. Em Ponyo: Uma Amizade Que Veio do Mar, esse paralelismo entre os dois artistas é muito mais fácil de ser apontado. Em primeiro lugar, o próprio Miyazaki mencionou que sua principal influência para a história do peixinho dourado que deseja virar humana foi a versão Disney para A Pequena Sereia, de 1989. Além disso, o filme foi distribuído nos Estados Unidos, lugar onde o artista japonês tem diversos fãs, pela Walt Disney Company. John Lasseter, chefão da Pixar, é assumidamente apaixonado pelo trabalho de Miyazaki, e até incluiu Totoro, do filme Meu Amigo Totoro, de 1988, nos créditos finais de Toy Story 3 (2010).

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Na história, escrita por Miyazaki, Ponyo (com a voz original de Yuria Nara) é uma peixinho dourado curiosa que vive no mar, dentro de um aquário construído pelo seu pai, Fujimoto (Jôji Tokoro). Um dia, ela foge deste lugar seguro e quase é capturada por um barco pesqueiro. Com a confusão e a poluição do mar, Ponyo acaba ficando presa em um pote de vidro, sendo salva pelo garotinho de cinco anos Sosuke (Hiroki Doi). A amizade entre os dois é instantânea. Fujimoto, no entanto, não gosta de ver sua filha com humanos e consegue resgatá-la. Mas já é tarde demais. Ponyo ama seu novo amigo e fará o que puder para se transformar em humana.

A animação de Hayao Miyazaki tem uma grande qualidade, que salta aos olhos logo nos primeiros minutos do filme: a movimentação dos personagens. Ela é tão caprichada e próxima à realidade que chega a parecer que os animadores desenharam por cima de um filme real. Sosuke foi baseado no filho de Miyazaki e se comporta, caminha e se movimenta exatamente como uma criança de cinco anos. Em dado momento, ao esconder Ponyo antes de entrar no colégio, Sosuke fica parado na porta, como se tivesse feito uma travessura, e aquela atitude é totalmente condizente com uma criança. Um primor.

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Além disso, a história é belíssima, devendo conquistar o seu público-alvo facilmente. Não é necessário ser fã de animações japonesas para curtir a trama de Ponyo, já que é basicamente uma fábula de amizade, carinho e respeito – com uma boa porção de fantasia, é claro. O que é interessante no roteiro é a total imersão dos personagens neste universo fantástico, não estranhando em nenhum momento o fato de um peixe se transformar em um ser humano, por exemplo. E só neste universo passaríamos a mão na cabeça de Lisa (Tomoko Yamaguchi), que se mostra uma das mais irresponsáveis mães de qualquer animação. Além de dirigir como uma louca em estradas sinuosas e passar por uma barragem praticamente imersa apenas para chegar em casa, ela acaba deixando seu filho sozinho num momento potencialmente perigoso para ajudar um bando de velhinhos. Não fosse um desenho fantasioso e ela seria uma séria candidata a um processo.

Além de falar sobre amizade e amor, Miyazaki faz sua crítica à poluição dos mares, pintando um panorama assustador do estado lamentável dos oceanos judiados pela ação irresponsável dos homens. Como revide, o artista mostra o poder da mãe natureza e o que poderia acontecer caso a força da água invadisse nossa sagrada terra firme. Com tantas mensagens válidas, não é de se estranhar que o trabalho do artista japonês saiu vencedor do principal prêmio de Animação da Academia Japonesa de Cinema, com indicações a outros festivais importantes como o de Veneza.

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Com personagens interessantes e sem vilão algum – o pai de Ponyo não chega a tanto, apesar de ter uma conduta opressiva – Ponyo: Uma Amizade Que Veio do Mar é uma animação deliciosa, que vale a pena curtir, independentemente da idade do espectador. O maior desafio é não sair cantando a bobinha – mas contagiante – música-tema do filme. Ponyo Ponyo Ponyo sakana no ko...

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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