Crítica

Depois de circular pelas principais cidades europeias, Woody Allen está de volta a Paris, cenário do seu mais bem sucedido filme feito no Velho Continente (Meia-Noite em Paris, 2011). Mas, dessa vez, não mais como realizador, e sim como principal inspiração da divertida comédia romântica Paris-Manhattan, um longa tão simpático quanto inofensivo. Daqueles de se assistir descompromissado, muito bem acompanhado e repleto de suspiros e boas lembranças. Tramas previsíveis podem, sim, ser interessantes, desde que venham embaladas com alguns diferenciais que se destaquem positivamente. Neste caso em específico, além do carisma da protagonista vivida por Alice Taglioni (A Pantera Cor-de-Rosa, 2006), temos a constante reverência às criações do genial cineasta americano.

Alice (Taglioni) é apaixonada pelo cinema woodyalleniano desde a adolescência. Diante o imenso pôster do diretor que ostenta na parede do quarto, ela divide com ele todas as suas inseguranças, anseios e expectativas – a maioria, evidentemente, relacionadas aos relacionamentos amorosos. Estas são algumas das mais bacanas sequências de Paris-Manhattan, pois os diálogos de fato acontecem: a cada desabafo da garota, ouve-se uma resposta de Allen, declarações estas retiradas de algum dos seus diversos personagens interpretados por ele mesmo em seus filmes. O jogo, neste ponto, ao menos para os cinéfilos mais dedicados, é tentar imaginar de quais histórias aqueles sonoras foram coletadas!

Entre referências à Ponto Final (2005), Manhattan (1979), Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo e tinha medo de perguntar (1972) e Um Assaltante Bem Trapalhão (1969), entre tantos outros, Paris-Manhattan se transforma em uma caça-ao-tesouro para qualquer fã de Woody Allen. O importante, no entanto, é que esse charme inicial consegue de forma bastante satisfatória ser transferido para a própria história que estamos acompanhando. Infeliz no amor, Alice vê o candidato a namorado ideal (Louis-Do de Lencquesaing, de Polissia, 2011) ir parar nos braços da irmã. Com o tempo, apenas o pai delas segue determinado na tarefa de encontrar para a filha mais velha o marido perfeito. E isso parece acontecer quando o técnico em alarmes Victor (Patrick Bruel, de Qual é o nome do bebê?, 2012) cruza o caminho deles. Mas nada será tão fácil ou simples como se poderia imaginar.

Ao mesmo tempo em que Victor se demonstra mediamente desinteressado na bela garota desastrada, Alice possui beleza e simpatia suficiente para compensar qualquer deslize que vá surgindo no relacionamento entre eles. Seguindo as dicas de Woody Allen, os dois passam a rever suas próprias condições e as possibilidades que vão se desenrolando diante seus caminhos. E quando, já quase no final dos meros 77 minutos de duração, o improvável galã é chamado de emergência para abrir a porta trancada de um quarto de hotel, quem ele irá encontrar ali hospedado será uma deliciosa surpresa em ambos os lados da tela. Afinal, se isto era o melhor que a diretora e roteirista Sophie Lellouche podia fazer, já está de bom tamanho!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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