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Sinopse

Quatro histórias românticas repletas de aventuras envolvendo residentes e visitantes da cidade de Roma.

Crítica

Nova York. Londres. Barcelona. Paris. E agora Roma. Woody Allen parece não se cansar de ser o diretor mais “turista” dos últimos anos. Cada filme rodado em um diferente país não só mostra o talento impregnado em seus roteiros, mas também a forma como ele molda seus longas de acordo com as características de cada lugar, do humor negro beirando ao mórbido dos londrinos Match Point (2005) e Scoop: O Grande Furo (2006), às paixões fogosas e arrebatadoras do caliente Vicky Cristina Barcelona (2008), ao mix de amor, finesse e cultura do excepcional Meia-Noite em Paris (2011).

Pois em Para Roma com Amor não poderia ser de outra maneira. Divulgado como uma livre adaptação de Decamerão, de Boccacio, a comédia vai muito além desta definição. O espectador é apresentado a quatro diferentes histórias que não necessariamente se cruzam, mas tem a cidade italiana como pano de fundo, e falam sobre paixão e fama (por vezes fugazes). Aí temos um casal americano (o próprio Woody Allen e Judy Davis) que vai conhecer o noivo da filha (a talentosa Alison Pill); dois italianos recém-casados (Alessandra Mastronardi e Alessandro Tiberi) que se perdem quando ela vai conhecer os tios dele; um famoso arquiteto americano (Alec Baldwin) que relembra a juventude quando se apaixonou por uma atriz (Ellen Page); e um simples trabalhador (Roberto Benigni) que, da noite pro dia, transforma-se em uma celebridade fora do comum.

Neste caleidoscópio de histórias, algumas acabam ganhando mais destaque (e mais personagens) que as outras, mas as estreladas essencialmente pelos italianos são as mais charmosas do longa. Benigni está impagável como o homem que vai sair para trabalhar e acaba tendo que enfrentar uma multidão de paparazzi que não o deixa entrar no carro. A história de seu personagem parece tão sem noção (afinal, ele dá entrevista sobre o que comeu no café da manhã, entre outras coisas do gênero) que a naturalidade do ator em expor seu lado humorista só ganha pontos.

O mesmo pode ser dito do casal Mastronardi e Tiberi. Ela, belíssima e ingênua, acaba perdida na cidade e vai parar num set de filmagem, onde seu ator favorito se encanta pelos seus dotes. Já seu marido acaba recebendo por engano a visita de uma prostituta (Penélope Cruz, divertidíssima) e acaba tendo que apresentá-la como esposa. Em menor grau, mas ainda ótimo, está o conto do casal americano que visita a filha. Judy Davis (que parece ter envelhecido uns 20 anos) é psiquiatra, enquanto Woody Allen é um colecionador de arte, e diretor de ópera nas horas vagas, que se aposentou. Em meio ao tédio e aos conflitos ideológicos com o genro, acaba querendo transformar o sogro de sua filha em um astro da ópera. O detalhe é que o homem só sabe cantar no chuveiro. Imaginem a confusão.

Agora, o diretor, que sempre foi conhecido por saber escalar a dedo seu elenco, parece ter errado na hora de contar a narrativa do arquiteto famoso e seu amor da juventude. Jesse Eisenberg, repetindo (mais uma vez) seu papel em A Rede Social (2010), e Elliot Page, que ficou eclipsado como Juno (2007), não conseguem dar uma veracidade à história da femme fatale que arranca suspiros do rapaz. Até porque Page pode ser relativamente bonito e talentoso, mas para viver uma mulher de arrancar o fôlego está longe. Pelo menos as intervenções de Baldwin são excelentes.

Entre muito altos e poucos baixos, a fotografia do filme (como não poderia deixar de ser) é belíssima, especialmente em um plano que dá um giro de 360 graus no Centro de Roma. A intenção de Allen aqui parece ser criticar a questão das subcelebridades (o que ele já havia tentado fazer, com menos força, em Celebridades, de 1998) amarrando a fama transitória com as paixões repentinas e extremamente quebráveis que temos ao longo da vida. Não tem como não pensar em um paralelo entre a Roma que foi berço de imperadores que tiveram seus dias de glória e de derrota com a fama ou paixão dos personagens que estrelam o longa. Longe de ser um Meia-Noite em Paris ou Tiros na Broadway (1994), mas também muito mais inspirado que bobagens como Dirigindo no Escuro (2002), o cineasta apresenta uma comédia despretensiosa que nos faz rir – e muito. Resta esperar se teremos o diretor turista filmando em terras tupiniquins. Tomara que seja logo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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