Crítica

Aqui, todo mundo sabe a que nos referimos quando falamos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Já se pode ver, em mais de três décadas realizando o evento, traços fortemente impregnados pela política de exibição da curadoria nas pistas daquilo que se propõe, do que se constitui e do que sempre buscará fomentar. Em inglês, o evento leva o nome de São Paulo International Film Festival, ou seja, ganha pompa e autoridade na imposição do palavra Festival, inexistente na nomenclatura em português.

Mais do que uma característica linguística, quando pensamos nos mais de quatrocentos títulos das mais diversas filmografias exibidos no curtíssimo espaço de quinze dias – o que faz de qualquer cinéfilo acima de tudo um maratonista – é impossível negar que a tendência à "mostra" se sobrepõe e vence, assumindo seu caráter de representar essencialmente o cinema, independente de forma e nacionalidade, e não o cineasta, como costumam os festivais.

Isso se comprova cada vez mais quando se abre espaço para uma animação como a francesa Panique au Village (A town called panic, 2009) e a mesma recebe a oportunidade de se apresentar de igual para igual em um circuito que conta com nomes de grife como Alain Resnais, Michael Haneke, Theo Angelopoulos e Wes Anderson, por exemplo.

Oriunda da série homônima francesa de 2000, Panique au Village é conduzida por Stéphane Aubier e Vincent Patar, ambos diretores do programa televisivo. Sem comprometer a qualidade na mudança do formato, a dupla faz da animação de brinquedos de plástico um recurso inesgotável, resultando em uma imprevisível e divertida história, recheada de sutilezas e muita imaginação.

Tudo tem início quando os amigos Índio e Cowboy lembram que o aniversário do companheiro Cavalo está se aproximando. Para a data não passar em branco imaginam que o melhor seria presenteá-lo com uma churrasqueira. Detentor do conhecimento pragmático e de muita destreza, o Índio faz todo o projeto, calcula medida, forma e material necessário. Esperam a brecha dada pelo amigo que vai até o colégio da apaixonada professora de música Égua e fazem, pela internet, a compra dos tijolos. Uma distração, no entanto, faz com que os cinqüenta tijolos necessários para a construção se transformem em um pedido de cinqüenta milhões. Mesmo desnorteados pela compra absurda, erguem o presente do Cavalo e escondem o restante do material sobre o telhado de sua casa. O que não poderiam imaginar é que, passada a comemoração do aniversário, o peso dos tijolos levaria ao desabamento da casa, colocando-os em uma aventura muito divertida, que os faz percorrer desde o núcleo da terra até o pólo mais frio do planeta, não impedindo que os personagens se relacionem até mesmo com alienígenas.

Uma vez vencido o costumeiro preconceito, a animação de Aubier e Patar se mostra muito sólida, seus caracteres se consolidam de distintas formas e apresentam personalidades com forças únicas, estritamente necessárias na criação desse mundo ficcional e levemente absurdo. O domínio da narrativa, a movimentação dos bonecos e o ritmo sempre estável compõem o núcleo de uma animação surpreendente e qualificada em diferentes aspectos, inclusive no de ampliar a visão dos espectadores para a diversidade da produção do cinema atual.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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