Crítica


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Sinopse

Uma família de uma pequena cidade em Nova York decide acolher em sua casa uma estudante estrangeira em intercâmbio. Mas eles não sabem que a presença desta garota vai mudar para sempre a dinâmica entre os familiares.

Crítica

Há pouca inocência no que diz respeito aos eventos que se sucedem no Paixão Inocente. O título nacional, no entanto, acerta em seu conceito genérico, pois cai como uma luva a esse drama romântico sem muitos elementos que o diferenciem dos tantos semelhantes que regularmente chegam às telas. Ainda assim, não merece ser descartado tão severamente. E isso se deve principalmente ao desempenho do elenco principal, formado por Guy Pearce, Felicity Jones e Amy Ryan. Os três conseguem atuar num tom muito próximo entre si, mantendo uma unidade que favorece ao desenrolar da trama e possibilita uma identificação mais concreta com o espectador. O que aqui se vê não é insólito ou inesperado – muito pelo contrário, poderia se suceder com qualquer um de nós. E é aí onde está sua força.

As primeiras cenas já adiantam o que está por vir. Paixão Inocente começa exatamente assim – inocente – e sem maiores expectativas: uma família feliz, registrando esse momento em fotos posadas para as mensagens de felicitações no final do ano. Todos aqueles sorrisos e abraços, como não poderia deixar de ser, estão prestes a desaparecer. E o elemento dissonante que provoca essa derrocada é externo: a chegada de Sophie (Jones), estudante estrangeira vinda em intercâmbio e que ficará hospedada na casa deles, dividindo o quarto com a filha única do casal (Mackenzie Davis).

Mais interessante do que a sequência de fatos que ocorrem após a aparição da visitante é o estudo que se faz a respeito destes quatro personagens. Afinal, temos uma amizade que se desfaz por desconfiança, um marido que abrirá espaço para a infidelidade, uma mulher que se sente cada vez mais sozinha, e uma garota perdida que não consegue abandonar os erros do passado. Cada um terá seu momento para aprofundar calmamente as vivências que carregam, permitindo que o espectador descubra, cada um a seu tempo, os percalços que eles precisam enfrentar em busca de algo maior. Que tanto pode ser uma sonhada felicidade como também, e muito mais importante, uma merecida paz.

Nada é calculadamente planejado, e observar como esses acasos vão, aos poucos, compondo um quadro não de todo previsível é até interessante. Guy Pearce, como o homem da casa, o marido infeliz no trabalho e inseguro com a esposa que busca se firmar enquanto provedor, profissional e macho, não hesitará em passar pela porta que lhe é oferecida diante da nova fêmea ao seu alcance. O remorso, se é que existe, não se vislumbra. Há muito mais não dito do que colocado às claras. Amy Ryan, a esposa que pensa atender a todos – “eu gosto de dar carona” – é aquele tipo de mulher que está sempre ocupada, ainda que passe o tempo todo sem fazer nada. Seus segredos, dores e frustrações são engolidas, e sua realização se dá através dos sucessos dos outros. E Felicity Jones, jovem e com uma beleza pouco comum, explora os limites de sua ingenuidade com delicada precisão, sabendo exatamente o que fazer para alcançar o efeito esperado. A colisão destes três vértices provocará resultados irreversíveis.

Dirigido por Drake Doremus, o mesmo que havia trabalhado com Jones em Loucamente Apaixonados (2011) – e que convocou Pearce para Quando Te Conheci (2014) – Paixão Inocente é um filme que não apresenta grandes surpresas mas, ao mesmo tempo, é hábil em prender a atenção do espectador. Uma obra pequena, despretensiosa, porém dona de talentos individuais – um bom texto, atuações comprometidas – que fazem valer sua proposta. Do tipo do qual pouco se espera, e que talvez justamente por isso acabe revelando seus verdadeiros méritos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Edu Fernandes
6
MÉDIA
6

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