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Sinopse

Na companhia de três amigos, Bonga busca lares para crianças sem teto. Um menino rico, cansado da indiferença de sua família, foge e pede ajuda a esse time.

Crítica

Em 1981, para comemorar os 15 anos d’Os Trapalhões, Renato Aragão encomendou ao cineasta Silvio Tendler o documentário O Mundo Mágico dos Trapalhões, que tinha como único objetivo registrar a trajetória de sucesso da trupe formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. E após relembrarem suas grandes histórias até aquele momento, o longa terminava apontando para o futuro: a turma estava indo para Hollywood, filmar o bem sucedido Os Saltimbancos Trapalhões (1981). Estávamos, realmente, diante de um marco, de uma mudança de paradigma para as produções do grupo – deixava-se de lado as paródias de fórmula única e começava-se a investir em roteiros originais que explorassem o que os quatro tinham de melhor. O passo seguinte, dentro desse novo conceito, foi justamente esse Os Vagabundos Trapalhões.

Antes de ser mais um longa d’Os Trapalhões, Os Vagabundos Trapalhões é, na verdade, continuação direta de Bonga: O Vagabundo (1971), primeiro longa protagonizado por Renato Aragão. Ainda que não tenha sido necessariamente um êxito digno de sequências, Bonga foi um personagem fundamental para a formação de Aragão em Didi Mocó, seu tipo mais consagrado. De óbvia inspiração chapliniana, ele é um homem das ruas, que vive de pequenos golpes, mas dono de um bom coração, o que acaba invariavelmente lhe deixando em maus lençóis. Mas ele não está mais sozinho. Agora, Bonga tem ao seu lado um mundo completamente novo. Além dos companheiros Dedé, Mussum e Zacarias, há ainda Lola (Louise Cardoso, bonita e convincente), a eterna namorada, e dezenas de crianças perdidas, encontradas pelas ruas sem pai nem mãe, que respondem pela principal preocupação deles: encontrar pais adotivos para cada uma delas.

Lola quer casar com Bonga, mas esse disse que só aceita o compromisso quando conseguir dar uma família a cada criança abandonada que encontrar. Esse é o motivo “oficial” deles todos estarem tão empenhados nas artimanhas que arrumam para darem os pequenos à adoção de forma não-oficial, simulando atropelamentos, confusões e enganos variados. A história, no entanto, de fato começa quando, ao fugirem da polícia, acabam encontrando Pedrinho (Fábio Villa Verde), que está à espera do Batman para ir morar com ele. O garoto afirma não ter ninguém que se preocupe com ele, preferindo recorrer aos heróis da televisão. Mas a realidade não é bem essa.

Pedrinho é, na verdade, filho de um importante e ocupado empresário (Edson Celulari), que só lembra que é pai quando o menino desaparece. Recorrendo à ajuda da professora (Denise Dumont), os dois saem no encalço dele – e no processo, é claro, acabam se apaixonando um pelo outro. A proximidade dela com Bonga também servirá para despertar o ciúmes de Lola, obrigando-a a exigir dele uma decisão. Mas ele tem questões maiores para resolver antes. Afinal, todos os personagens estarão entrelaçados entre si de uma forma ou de outra, e será preciso desvencilhar de situações mal explicadas e superar traumas do passado para que, enfim, encontrem juntos o final feliz. Mesmo que esse não seja exatamente aquele que imaginam num primeiro instante.

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Com roteiro de Gilvan Pereira – o mesmo de Os Saltimbancos Trapalhões – e direção do veterano J. B. Tanko – responsável pelo maior sucesso de bilheteria da história do grupo, O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977), com quase 6 milhões de espectadores – Os Vagabundos Trapalhões tem trilha sonora eclética (até Wando colaborou) e ritmo irregular, ainda que envolvente. Algumas de suas opções são controversas, principalmente vistas hoje em dia, em tempos em que o politicamente correto impera – as adoções, amplamente irregulares, tratam as crianças, em última instância, como frutas na feira. Mas se forem feitas vistas grossas para esses detalhes (não tão pequenos assim, entretanto), tem-se uma aventura bem estruturada, com um elenco mais profissional – basta perceber os nomes envolvidos – e um tom melancólico que acaba funcionando a seu favor. Pode não ser o melhor filme do quarteto, mas certamente é um que merece ser observado com respeito como início de uma fase áurea.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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