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Sinopse

Jovem D’Artagnan se une a três destemidos mosqueteiros em nova versão da clássica história de Alexandre Dumas. Em meio de lutas e batalhas de espadas, eles precisam deter o vilão Richelieu e proteger a encantadora Milady.

Crítica

A obra clássica de Alexandre Dumas foi adaptada para o cinema tantas vezes que chega a se perder a conta. No entanto, ao mesmo tempo que é preciso levar em conta sua relevância para literatura mundial, deve-se entender também que em sua época se tratava de um texto bastante popular, que falava com as massas. E talvez tenha sido justamente essa a ideia do diretor Paul W. S. Anderson: fazer um filme ágil e moderno, repleto de maneirismo atuais e com dinamismo suficiente para entreter jovens e adolescentes mais preocupados com a quantidade de pipoca e de refrigerante que ainda possuem do que com o que realmente está se passando na tela grande. O triste é chegar à conclusão que até com esse público preferencial ele parece ter falhado: além deste Os Três Mosqueteiros ser insuportável para qualquer outra faixa etária, é tão cheio de clichês que até aqueles a quem se dirige irão se cansar rapidamente.

Antes de mais nada, favor não confundir esse Paul Anderson com o seu homônimo mais famoso – e talentoso! Enquanto esse Paul W. S. Anderson dirigiu os problemáticos Resident Evil (2002) e Alien vs. Predador (2004), o Paul Thomas Anderson adorado pela crítica nos entregou os excelentes Magnólia (1999) e Sangue Negro (2007). Portanto, de alguém com um currículo como o do W. S., não se pode mesmo esperar algo extraordinário. E é justamente o que acontece aqui: o seu Os Três Mosqueteiros é nada mais do que medíocre e ordinário, comum e óbvio. A começar pela escolha do protagonista, o jovem Logan Lerman, que antes naufragara outra franquia (Percy Jackson e o Ladrão de Raios, 2010). O menino não possui carisma, e seu D’Artagnan beira o irritante. Já os escalados para darem vida ao famoso trio de mosqueteiros são tão apáticos e irrelevantes que nem chegamos a nos importar com o que acontece com eles: Matthew MacFadyen (Orgulho e Preconceito, 2005), faz um Athos prestes a chorar a qualquer momento; Ray Stevenson (O Justiceiro: Em Zona de Guerra, 2008), aparece como um Porthos domado, longe da rebeldia envolvente do original; e Luke Evans até tem um certo charme, mas não o suficiente para relembrar o Aramis conquistador.

E isso é o que diz respeito aos personagens mais notórios, pois há ainda outros que incorrem no mesmo erro de estarem sendo interpretados pelos intérpretes mais equivocados possíveis. O Duque de Buckingham de Orlando Bloom beira do caricaturesco, enquanto que o Cardeal Richelieu de Christoph Waltz reforça o consenso de que o Oscar dado ao ator por Bastardos Inglórios (2009) foi, no mínimo, equivocado, pois aquele tipo é tudo o que ele sabe fazer. Mas a presença mais estranha é justamente daquela em qual se depositavam as maiores apostas: Milla Jovovich, esposa do diretor. Para ela, tanto faz estar num drama de época (Joana d’Arc, 1999), em uma aventura futurista (O Quinto Elemento, 1997), num terror sobrenatural (Contatos de Quarto Grau, 2009) ou mesmo na sua personagem mais popular (saga Resident Evil): sua atuação é sempre a mesma! E aqui, como Milady de Winter, novamente se repete, como uma dama da corte capaz de roubos espetaculares, saltos mirabolantes e acrobacias dignas de um expert. Nada de novo, portanto.

Mas há mais a ser apontado dentre os problemas deste Os Três Mosqueteiros. Se o elenco é um desastre, o visual artificial, os efeitos convencionais e o enredo que mais lembra uma colcha de retalhos também pouco colabora para melhorar o astral da audiência. Para quem não relembra, vamos à trama: no século XVIII, quando os legendários mosqueteiros, a famosa guarda real, estavam desacreditados, um jovem insiste em depositar confiança nas capacidades deles e sai do interior da França para se juntar a eles. Mas o Rei não é mais do que um adolescente, e quem domina o país e o maléfico cardeal Richelieu, que com seus guardas arma um plano para conspirar contra a realeza, jogando a nação numa guerra sem sentido contra a Inglaterra, que deverá terminar com sua ascensão ao poder. E caberá aos já desprestigiados mosqueteiros impedir que isso aconteça.

Os Três Mosqueteiros versão 2011 abandona suas origens nobres para se tornar um genérico de como um bom filme de ação deveria ser, mas sem os elementos necessários que o destacariam da mesmice dos demais. Dirigido sem criatividade, interpretado sem paixão e realizado como se seu único objetivo fosse capitalizar em cima das bilheterias, ainda comete a ousadia de armar um final que aponta para uma eventual continuação – algo que, pelo jeito, não irá acontecer. E pensar que chegamos ao dia em que sentiríamos saudades da versão de 1993, que contava com Chris O’Donnell como D’Artagnan e os indefectíveis Charlie Sheen, Kiefer Sutherland e Oliver Platt como Aramis, Athos e Porthos. Se chegamos a considerar aquela produção um ultraje, é porque nem imaginávamos que teríamos pela frente essa, ainda mais catastrófica.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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