Crítica


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Sinopse

A fim de arrecadar dinheiro para um orfanato administrado pela Irmã Maria, os Trapalhões organizam um show. No entanto, o montante arrecadado é roubado e a turma persegue os ladrões até o Beto Carrero, uma espécie de velho oeste no Brasil.

Crítica

Após uma fase que começou com Os Saltimbancos Trapalhões (1981), no início da década de 1980, e se seguiu até Os Trapalhões e o Mágico de Oróz (1984), a trupe formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias realizou cinco títulos de grande impacto, tanto junto ao público – algo que era de praxe para os longas da turma na época – como também com a crítica, que invariavelmente aponta estas produções como algumas das melhores de suas filmografias. A decaída começou com A Filha dos Trapalhões (1984), filme de uma piada só, ideia que, no entanto, nem chega a ser perseguida neste Os Trapalhões no Reino da Fantasia, longa de resultado tão genérico quanto o próprio título já aponta.

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Foi com este filme, aliás, que eles voltaram a abrir mão de atores de verdade – como Nelson Xavier, Regina Duarte, Edson Celulari, Bruna Lombardi, José Dumont e Gracindo Junior, entre outros, que participaram de longas anteriores – para convidar celebridades não apenas para participações especiais, mas também para papéis de maior destaque. É por isso, portanto, que o principal personagem feminino é interpretado por ninguém menos do que a apresentadora infantil Xuxa Meneghel, neste que foi o terceiro dos cinco trabalhos que ela fez com os Trapalhões. Ela aparece como a irmã Maria, freira que recebe a notícia logo no começo da trama que o orfanato onde atua irá fechar as portas no final do mês. Sem saber o que fazer, ela decide pedir ajuda a personagens de uma história em quadrinhos (uma atitude muito lógica, como se percebe).

Esse recurso abre espaço para outro amigo dos comediantes: o animador Mauricio de Sousa (criador da Turma da Mônica), que fica responsável por uma sequência de aproximadamente vinte minutos totalmente animada, com os quatro em versões ainda mais infantis. É curioso constatar que este trecho do filme não possui ligação alguma com o resto da história, sendo inserido de forma absolutamente gratuita, como que para promover o talento do colega junto ao público que ambos tinham em comum: as crianças. Após essa passatempo com toques de videogame oitentista, volta-se aos atores reais para uma apresentação beneficente, cujo objetivo é arrecadar fundos para impedir que a instituição encerre suas atividades.

É quando entra em cena o grande Mauricio do Vale, ator glauberiano de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), mas que por possuir um tipo físico muito específico, acabou marcado como vilão. Aqui, ele aparece como o líder de uma gangue que rouba o dinheiro das criancinhas. Assim, enquanto Mussum e Zacarias entretém o público fazendo suas trapalhadas no palco – ou seja, apenas repetindo os mesmos esquetes que na época eram comuns no programa de televisão que apresentavam aos domingos – Didi, Dedé a Xuxa partem no encalço dos bandidos. Sem fazer o menor sentido, quando menos se espera eles estão no parque do Beto Carrero (outro parceiro de longa data dos protagonistas), em mais um trecho alienígena ao resto do enredo cuja única função é servir de propaganda.

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Com esse roteiro que mais parece uma colcha de retalhos e a direção fraca de Dedé Santana, preocupado apenas em repetir velhas piadas ao invés de proporcionar algo novo a uma audiência que até então era cativa, Os Trapalhões no Reino da Fantasia teve um dos piores desempenhos de bilheteria das produções do grupo naquele período – ainda que tenha somado quase 2 milhões de espectadores. Mesmo assim, foi suficiente para seguirem repetindo tais duvidosas parcerias – tanto Xuxa quanto Beto voltariam em novos filmes, enquanto que o seguinte, Os Trapalhões no Rabo do Cometa (1985), seria feito inteiramente no formato de desenho animado. Se ao menos serviu para dar uma folga ao público, para qualquer espectador mais atento revelou algo mais grave: o esgotamento de uma fórmula que, infelizmente, teria poucos suspiros originais a oferecer nos anos seguintes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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