Crítica

Os Trapalhões na Terra dos Monstros foi o final de uma era para o grupo de comediantes. Embora Uma Escola Atrapalhada (1990) contenha a aparição final de Zacarias, que faleceria pouco depois do lançamento, sua participação era pequena demais. O real último filme do quarteto é esta produção do final dos anos de 1980, com direção de Flávio Migliaccio. Nela, podemos ver Didi, Dedé, Mussum e Zacarias em toda sua glória, com todas suas estripulias e tradicionais confusões. Por sorte, nem as participações especiais descartáveis e as atuações pouco inspiradas conseguiram tirar o brilho deste canto dos cisnes do quarteto, que aparece em uma divertida trama fantástica.

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Bebendo na fonte de filmes como História Sem Fim (1984), a trama nos coloca dentro da Pedra da Gávea, onde moram seres fantásticos como os simpáticos Grunks e os temíveis Barks. Os Trapalhões vão parar lá dentro à procura de Angélica, filha de um ricaço, que sonha em ser cantora profissional. Ao vencer um concurso no programa de Gugu Liberato, ela escolhe gravar um clipe com o grupo Dominó no alto da Gávea. Mas ela acaba sumindo junto de seu namorado, Conrado. Agora, cabe aos seus atrapalhados amigos a acharem e derrotarem as ameaças que lá vivem. No meio do caminho, Didi se apaixona pela bela fenícia Cira (Vanessa de Oliveira) e terá de escolher o que deseja fazer de sua vida.

Para a época, Os Trapalhões na Terra dos Monstros se mostrou uma incrível evolução em valor de produção para os filmes estrelados pelo grupo. Nada parecia barato ou feito sem esmero. Desde as fantasias dos monstros, passando pela direção de arte que concebeu a caverna e a trama envolvendo os fenícios e as criaturas fantásticas, tudo se mostrou de ótimo acabamento. Claro que, hoje em dia, algumas coisas podem saltar aos olhos, como zíperes e máscaras em falso nos atores que vivem os Grunks. Mas os Barks ainda impressionam, tanto pelo imaginativo desenho das criaturas quanto sua execução.

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Didi é o herói da história, como sempre, ganhando as melhores cenas e um interesse romântico que tem potencial para mudar seu destino. Seus amigos, mesmo com menor tempo, ainda cativam. Dedé ganha pouco o que fazer, sendo apenas o sidekick de Didi. Enquanto isso, Mussum e Zacarias divertem com suas estripulias junto dos Grunks. E se Angélica e Conrado se mostram atores muito “verdes” para papéis de destaque, ao menos temos Benjamin Cattan e Geórgia Gomide para equilibrar a balança. Gugu Liberato novamente se mostra inapto para atuação, mesmo vivendo ele mesmo em um programa de TV. Sua fala “monstros?” ao final do filme chega a ser ridícula. O grupo Dominó também não ajuda, mesmo que apareça muito pouco.

Sempre existiram participações especiais descartáveis e aparições de produtos nos filmes dos Trapalhões, até para viabilizar a produção de, em média, dois longas por ano. Mas em Os Trapalhões na Terra dos Monstros esta artimanha é extrapolada. Já nos créditos iniciais temos a participação dos heróis dos refrescos Royal (quem lembra deles?) salvando os Trapalhões em ação completamente gratuita. Mas nada nos prepararia para a aparição do Bocão da Royal dentro do quarto de Angélica. O que ele estava fazendo ali ninguém se importa em explicar. Ao menos dentro da caverna não temos muitos outros espaços para merchandising.

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Com mais de três milhões de espectadores, o longa não conseguiu o mesmo resultado acachapante dos dois anteriores, O Casamento dos Trapalhões (1988) e A Princesa Xuxa e os Trapalhões (1984), que levaram mais de quatro milhões de pessoas aos cinemas. Mas nem por isso poderia ser chamado de fracasso. Divertido e muito bem produzido, Os Trapalhões na Terra dos Monstros é um adeus válido para o saudoso Zacarias e para aquele quarteto que tanto fez o Brasil rir durante seus anos em atividade. O trio remanescente ainda trabalhou junto em outras produções, mas nunca com o mesmo brilho de outrora.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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