Crítica

Comédia romântica é um dos gêneros mais maltratados pelo cinema atual. Todos os filmes com essa temática são invariavelmente iguais – o casal do pôster se conhece, briga, se afasta, se reencontra, faz as pazes e fica junto no final. São poucos os que conseguem fugir dessa fórmula pré-estabelecida. Muito mais simples é partir desse arquétipo e construir algo novo, sem menosprezar tudo que foi utilizado antes, com efeito. Esse é o caso de Os Nomes do Amor, sucesso de público e de crítica francês que chega agora ao Brasil buscando um espectador que se diferencie ao privilegiar obras que assimilem o que de melhor existe em cada estilo e que mesmo assim se preocupe em inovar, apresentando novidades que farão toda a diferença.

O detalhe que surpreende em Os Nomes do Amor é o seu viés político. Numa França cada vez mais dividida e dominada por culturas estrangeiras – como muito bem explorado foi em filmes como Entre os Muros da Escola (2008) – faz todo sentido do mundo assumir essa divisão também na área dos relacionamentos pessoais. Dessa vez temos como protagonistas Arthur e Bahia, duas pessoas que teriam tudo para não se entenderem, mas que ainda assim se percebem completamente apaixonadas uma pela outra. Ele é um profissional de respeito, um biólogo renomado que serve como consultor sobre a gripe aviária e outros casos de grande interesse à população. Quarentão e ainda solteiro, pouca comunicação tem com os pais, vendo-os apenas vez que outra. O oposto dela, uma jovem livre e desimpedida, que usa o sexo como arma política e possui uma relação franca e bastante próxima com toda a família. Não sabe muito bem o que quer, mas até lá está disposta a fazer o que for preciso para se realizar.

Arthur tem como sobrenome Martin, e esse é um dos nomes franceses mais comuns possíveis – é também o mesmo nome de uma grande marca de eletrodomésticos. Bahia, por sua vez, é da família Benmahmoud, ou seja, incomum e que de cara alerta para suas origens argelinas. Ele é o cidadão comum, o francês nato, mas que como a grande maioria, também é fruto de uma mistura: sua mãe é judia, e os avós foram assassinados durante a Segunda Guerra Mundial. Ela, por outro lado, tem como pai um refugiado da Argélia, mas como mãe uma burguesa revoltada. São diferentes, sim. Mas nem tanto. E é isso, basicamente, que o filme quer dizer: no fundo, somos todos iguais.

Com quatro indicações ao César (o Oscar francês), inclusive a Melhor Filme, Os Nomes do Amor saiu com duas vitórias: Melhor Atriz, para Sara Forestier, e Melhor Roteiro Original. Ela, de apenas 25 anos, ficou à frente de nomes tarimbados como Catherine Deneuve, Charlotte Gainsbourg e Kristin Scott Thomas. Já ele, Jacques Gamblin, concorreu também como Melhor Ator, mas acabou sendo preterido por Eric Elmosnino, do impressionante Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres (2010), ficando na companhia de intérpretes consagrados como Gerard Depardieu, Lambert Wilson e Romain Duris. Resultados bastante justos, que apontam exatamente o que o longa tem de melhor: a presença esfuziante e arrebatadora da protagonista e o enredo, que brinca com elementos bastante conhecidos apresentando-os de um modo novo e irresistível.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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