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Sinopse

Pedrão e Jorginho são seguranças de um importante museu. Os dois são acusados do roubo do anel mais valioso do mundo. Ninguém parece acreditar neles, ainda mais quando, acidentalmente, a joia vai parar no estômago de um deles. Enquanto fogem, precisam arquitetar um plano para provar sua inocência.

Crítica

É muito fácil falar mal de um filme como Os Caras de Pau em o Misterioso Roubo do Anel. Mais complicado é tentar entender os porquês por trás da sua realização – afinal, seria simplista demais afirmar que sua única motivação seja financeira. O longa que encerrou a temporada brasileira de estreias em 2015, tendo sido lançado na última quinta-feira do ano, chega para brigar por um espaço que há muito estava vazio – aquele que tradicionalmente era ocupado por produções dos Trapalhões ou da Xuxa, ou seja, as adaptações cinematográficas de programas de sucesso na televisão. A questão, no entanto, é a seguinte: o seriado Os Caras de Pau (2010-2011), exibido pela da Rede Globo, está longe de ter o mesmo impacto junto ao público do que aqueles apresentados por Renato Aragão ou Xuxa Meneghel, por exemplo. E, da mesma forma, este filme também apresenta um resultado muito aquém de qualquer tipo de expectativa.

Desde 2010, Leandro Hassum marcou presença em nada menos do que nove longas diferentes, sendo cinco destes – ou seja, mais da metade – como protagonista. Pois foram justamente estes – os estrelados por ele em maior destaque – que tiveram as bilheterias mais altas. Natural, portanto, que os produtores seguissem investindo nesse novo astro. E depois de continuações (Até que a Sorte nos Separe 2, 2013), comédias românticas (Vestido pra Casar, 2014) e até paródias políticas (O Candidato Honesto, 2014), tava mais do que na hora de explorar um argumento óbvio: os personagens já conhecidos do público televisivo – o que, em tese, garantiria uma boa base de audiência. E assim temos O Misterioso Roubo do Anel, que parte direto para a ação sem maiores explicações a respeito de quem são os protagonistas, de onde vieram e o que fazem. Um ponto revelador, pois deixa clara a proposta dos realizadores: falar com um público iniciado, familiarizados com os personagens. Ao demais curiosos, resta tentar se divertir – uma tarefa mais difícil do que se poderia esperar.

Com um visual obviamente inspirado em Os Irmãos Cara de Pau (1980), Pedrão (Marcius Melhem) e Jorginho (Hassum) são dois seguranças contratados para garantir a proteção do valioso anel Tatu Tatuado, atualmente em exposição em um museu. O que acontece a seguir é previsível: a joia desparece, os dois são acusados do roubo e presos, ao mesmo tempo em que uma trupe de ninjas e um bando de mafiosos portugueses seguem no encalço dos dois, todos em busca da preciosidade. E se a trama não é muito interessante, perceber as diversas ‘homenagens’ (ou seria melhor dizer ‘plágios’?) a títulos mais famosos, como Quem vai ficar com Mary (1998) e A Dama e o Vagabundo (1955) – e não se preocupem, as referências são muito óbvias – se torna um passatempo até mais aprazível. Triste, no entanto, é perceber que o enredo central é uma cópia descarada da refilmagem de A Pantera Cor de Rosa (2006) – descobrir o verdadeiro vilão é tarefa tão ridícula que se chega a torcer por qualquer tipo de surpresa – algo que, evidentemente, nunca acontece.

Estranho mesmo, no entanto, é perceber que os absurdos começam no próprio título. Porém, ao contrário do verificado em Se Beber Não Case (2009) e Quero Matar Meu Chefe (2011), cujo batismo local perdia sentido nas continuações, aqui nem a desculpa da tradução é possível – afinal, estamos falando de uma produção brasileira! Para entender: apesar de se chamar O Misterioso Roubo do Anel, não há roubo nenhum – o anel está de posse dos dois patetas desde o começo – e muito menos mistério a respeito – todo mundo sabe o que aconteceu e o que irá se suceder a seguir. Em resumo: tem-se algo feito às pressas, com humor rasteiro e farsesco, que até pode funcionar a um nível baixo de exigência, mas que não resiste a nenhum dos aspectos aos quais se pretende. E a falta de risos em uma sala razoavelmente cheia é um indicativo mais do que forte de que o futuro da comédia nacional, se continuar nesse ritmo, está fadado ao esquecimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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