Crítica


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Sinopse

Henry Harrison é um dramaturgo que decide trabalhar como acompanhante para ganhar um dinheiro extra. Ele conhece Louis, jovem aspirante a escritor que foi obrigado a deixar seu emprego após um embaraçoso incidente.

Crítica

Depois de uma estreia auspiciosa com o drama cômico Anti-Herói Americano (2003), baseado nos quadrinhos de Harvey Pekar e indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o casal Shari Springer Berman e Robert Pulcini atirou, literalmente, para todos os lados. Fizeram um documentário para a televisão (Wanderlust, 2006), trabalharam com os astros Scarlett Johansson e Chris Evans e dirigiram um elogiado telefilme (Cinema Verite, 2011). No meio disso tudo, apenas uma obra, no entanto, seguia refletindo o espírito independente e inovador mostrado no primeiro trabalho: Os Acompanhantes, um longa bastante curioso e que encontra sua força, além do enredo inteligente (escrito pelo casal de cineastas em companhia de Jonathan Ames, autor do livro em que o filme se baseia), nas performances irretocáveis dos seus protagonistas: Kevin Kline e Paul Dano.

Kevin Kline é um dos grandes atores americanos, mas desde sua estreia no cinema, com o fantástico A Escolha de Sofia (1982), tem sido eclipsado por seus colegas em cena. Até o Oscar que ganhou foi de Coadjuvante, mas por um papel principal. Em Os Acompanhantes, no entanto, o que acontece é o contrário. Henry Harrison, seu personagem, é um senhor excêntrico que dá abrigo a um jovem professor que está em Nova York para escrever seu primeiro livro. Esse, desempenhado por um talentoso Paul Dano, é o verdadeiro condutor da história, mas após o término da projeção o único que permanecerá na memória dos espectadores será Kline, que impressiona desde o figurino, os gestos e até a condução de um tipo que é cômico, porém acima de tudo melancólico e, porque não, até mesmo trágico. Sua singularidade é arrebatadora.

Louis Ives (Dano) é um catedrático talentoso, que se dá bem com os alunos e colegas, mas que possui uma particularidade: ele gosta de se vestir como mulher. Claro que faz isso na solidão do seu quarto, longe dos olhos dos demais. Mas um dia, em plena escola, encontra um sutiã perdido e... por não conseguir conter esse ímpeto que lhe domina, é pego em flagrante e expulso do trabalho. Sem maiores responsabilidades, decide partir para a cidade mais cosmopolita que conhece e, lá, se dedicar ao seu verdadeiro sonho: se tornar um escritor de sucesso. Ao chegar encontra, pelos classificados, o Sr. Harrison (Kline), que lhe oferece um quarto e, acima de tudo, uma porta de entrada num universo de prazeres e situações impensáveis. Harrison trabalha como acompanhante de luxo de senhoras endinheiradas, algo um pouco mais elegante do que um michê. E não irá demorar muito mais que Ives passe a adotar a mesma “profissão”, ao mesmo tempo em que precisa se equilibrar entre seus desejos secretos e a atração que começa a sentir por uma colega de trabalho (Katie Holmes, de Batman Begins, 2005).

Os Acompanhantes é aquele tipo de filme que, de pequeno e discreto, vai se agigantando dentro de nós durante o desenrolar da sua história. Os acontecimentos que apresenta nem são tão importantes, e em sua grande maioria chegam mesmo a serem previsíveis. Mas somos tomados por tamanha simpatia por estes que conduzem a trama que é impossível não se importar com o que lhes sucede. E, como já foi dito, isso se deve em grande parte pelos desempenhos de Kline, Dano e, impossível de esquecer, John C. Reilly, que compõe mais uma figura inesquecível. Uma obra para ser descoberta, aproveitada com cuidado e, acima de tudo, recomendada aos amigos mais próximos e queridos, exatamente como fazemos com tudo que é importante. Não serão todos que reconhecerão seus méritos, mas os que conseguirem sairão imensamente gratificados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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