O Tempero da Vida
Crítica
Leitores
Sinopse
O Tempero da Vida é a história sobre um menino que cresceu em Istambul, cujo avô, um filósofo culinário e mentor, o ensina que tanto a comida quanto a vida, requerem um pouquinho de sal para adicionar-lhes sabor. Ambas precisam de um toque de tempero. Mas por causa da guerra, sua família se muda novamente para Grécia. Fanis cresce e se torna um grande cozinheiro. Trinta e cinco anos depois ele deixa Athenas e volta para Istambul a fim de rever a vizinhança onde cresceu e seu primeiro grande amor. Então ele percebe que sua vida necessita de um pouco de tempero também.
Crítica
O segredo para boas receitas se transformarem em deliciosos pratos é a perfeita utilização dos temperos. E, sendo a excelência alquímica das especiarias uma arte milenar que influenciou o próprio desenvolvimento humano, esse conhecimento vem sendo transmitido de geração para geração de modo a não se perder nas areias do tempo.
Em O Tempero da Vida, filme de Tassos Boulmetis lançado em 2003, o turco Vasilis (Tassos Bandis), dono de uma loja de temperos em 1959, em Istambul, e patriarca de uma família que tem raízes gregas, transmite ao pequeno neto Fanis (Markos Osse) seu saber ancestral sobre o mistério dos condimentos. Ao lhe apresentar a poesia existente no bem comer, desperta no garoto a paixão pela cozinha.
Vasilis ensina ao menino que alimentos podem despertar muito mais do que o paladar em pessoas que sabem apreciar a boa culinária. Para ele, sentidos como olfato, tato, visão e até mesmo audição configuram dimensões essenciais para a total apreciação de pratos bem feitos. Mais que isso, mostra que o próprio sal é determinante não apenas às comidas, mas também à vida.
Em sua filosofia empírica, o velho ressalta que a palavra “astronomia” está inserida em “gastronomia”, apontando com isso que a mágica da culinária é tão profunda e poderosa quanto a magia do universo. Dogmático, explica que receitas certas ou erradas podem influenciar para o bem ou para o mal o humor e as relações entre as pessoas.
Com a lição em mente, Fanis aproxima-se da garota Saime (Gözde Akyildiz), que vem a se tornar a grande paixão platônica de sua vida. Isso se dá pois um conflito político entre Turquia e Grécia, no início dos anos 1960, provocará a deportação da família do menino.
Refugiado em Atenas com seus pais, Fanis sofre com saudades do avô e da namoradinha, que ficaram em território turco. A vivência do amor que nutre pelos dois torna-se impossível, condenado pelo distanciamento.
Na capital grega, o garoto cresce instigado a cozinhar ao lado das mulheres de sua família, mas é tolhido pelos próprios pais, inconformados com os rumos que o menino está tomando. Desiludido, Fanis deixa a gastronomia de lado para dedicar-se, então, à astronomia - abdicando também da própria felicidade.
No entanto, tudo pode mudar quando o protagonista se vê obrigado a voltar a Istambul para visitar o avô doente, reencontrando também a amada Saime. Os dois são os temperos que podem mudar a vida de Fanis por completo.
Porém, como o próprio avô havia lhe ensinado, a alquimia das especiarias é um mistério tão volátil e fortuito quanto o universo. Lidar com temperos, assim como com pessoas, exige muita sabedoria. Com facilidade, ambos podem nos escapar. Um desafio e tanto mesmo para quem nasceu rodeado por condimentos.
Últimos artigos deDanilo Fantinel (Ver Tudo)
- A Natureza do Tempo - 1 de maio de 2018
- Through a Lens Darkly - 26 de agosto de 2017
- Becoming Bulletproof - 24 de agosto de 2017
Adorei seu texto, me ajudou muito. Obrigada!