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Sinopse

O surgimento de um agiota cobrando uma dívida considerável quebra o fluxo de felicidade na vida do irmãos Blaine. Para efetuar o pagamento, eles pedem dinheiro para o tio rico que, por sua vez, encomenda a eles um assassinato.

Crítica

Woody Allen é o típico cineasta nova-iorquino, que se delicia em espelhar na tela grande as neuroses e as manias de uma das maiores cidades do mundo. Porém, devido sua alta produtividade – há anos mantém o ritmo de um novo filme por ano – ele já estava se repetindo. Por isso foi tão bem vinda uma mudança para a Europa – primeiro a Inglaterra, onde vez três longas seguidos, e depois Espanha, onde filmou na sequência Vicky Cristina Barcelona (2008). Mas o que chega agora às telas brasileiras é sua terceira produção inglesa, O Sonho de Cassandra, uma obra que dividiu a opinião do público e da crítica. E algo que provoque tanta controvérsia merece ser discutido com mais atenção.

A primeira coisa a se destacar sobre O Sonho de Cassandra é o fato deste não ser uma comédia – um dos gêneros mais explorados pelo diretor – e sim uma tragédia – tema que, apesar de estar em minoria no currículo de Allen, abriga alguns de seus melhores filmes. Como no mais bem sucedido Match Point: Ponto Final (o primeiro dos trabalhos dele feitos na Inglaterra, lançado em 2005), o foco está nos aspirantes a um mundo melhor – antes representado na aristocracia inglesa, agora nos novos ricos hollywoodianos. As similaridades com Match Point não terminam aí: mais uma vez Allen se restringe ao trabalho nos bastidores, por trás das câmeras, abrindo espaço para outros atores serem os protagonistas. E, felizmente, nenhum deles tenta repetir os ‘tiques’ tão característicos da persona Woody Allen, como fez Kenneth Branagh em Celebridades (1998) ou Jason Biggs em Igual a Tudo na Vida (2003). E o choque é intenso: os menos atentos nem perceberão se tratar de um longa assinado pelo mesmo realizador de A Rosa Púrpura do Cairo (1985) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977).

Desta vez quem conduz a trama são os irmãos interpretados pelos ingleses Ewan McGregor e Colin Farrell, ambos carregando no sotaque pátrio. Um está cansado de ajudar o pai no restaurante familiar, e busca de uma oportunidade para mudar de vida. Quando surge a possibilidade de investir em hotéis em Los Angeles, crê estar finalmente diante de sua grande chance. O outro é um mecânico viciado em jogos e apostas. E tudo corre muito bem – tem uma boa namorada, acabou de comprar uma casa – até o dia em que perde a cabeça e assume uma dívida muito além das suas capacidades. Qual a solução que ambos encontram para estes problemas? Pedir ajuda ao tio rico (Tom Wilkinson), dono de uma rede de clínicas estéticas. Só que o parente também está encrencado, e aceita ajudá-los mediante a troca de um favor: quer que os sobrinhos assassinem um ex-associado que pretende prejudicar seriamente seus negócios.

Tudo é narrado de modo muito linear por Allen, e assim contando parece que não há surpresas em O Sonho de Cassandra. Este título, aliás, vem do nome do pequeno barco que os irmãos compram juntos no início do filme, e onde também se dará o desfecho da história. Esta conclusão, aliás, certamente irá assustar a maioria dos espectadores, seja pela sua brutalidade, objetividade ou rapidez. Mas, após uma rápida análise, a lógica se faz presente, de acordo com todo o resto da narração até então presenciada: a economia, aqui, significa lucro. E quem ganha com este pequeno conto de ‘crime e castigo’ (Dostoievski é uma referência obrigatória, assim como Hitchcock, pelo tom assumido na condução do enredo) é o espectador, mais uma vez presenteado com uma amostra de inteligência singular. O Sonho de Cassandra pode não ser inesquecível, nem se posicionar como o melhor da produção de Allen, mas certamente terá seu espaço reservado entre os fãs do realizador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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