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Sinopse

Um ex-criminoso que tem apenas 12 horas para conseguir achar sua filha, mantida trancada no porta-malas de um táxi em Nova York por seu antigo parceiro de crime. Ela só será libertada quando Will revelar o paradeiro dos 20 milhões de dólares que escondeu no último roubo.

Crítica

Há algum tempo, Nicolas Cage desistiu de ser um bom ator. Intérprete esforçado, duas vezes indicado ao Oscar, premiado com uma estatueta – Melhor Ator por Despedida em Las Vegas (1995) – e de origem nobre (é sobrinho de Francis Ford Coppola) e responsável por algumas bilheterias de destaque, talvez seu último projeto de impacto tenha sido As Torres Gêmeas (2006), de Oliver Stone. Neste meio tempo trabalhou com um diretor de respeito num filme que ninguém viu (Vício Frenético, de Werner Herzog, em 2009), lançou uma franquia que só agradou aos fãs mais radicais (Motoqueiro Fantasma, em 2007 e 2011) e se envolveu com mais um monte de produções descartáveis. A última dessa lista é O Resgate, que chega aos cinemas brasileiros após ter sido completamente ignorado nos Estados Unidos.

Com uma trama visivelmente calcada em O Preço de um Resgate (1996), veículo para Mel Gibson duas décadas atrás, O Resgate mostra os esforços além do verossímil de um pai para salvar a filha sequestrada. No caso, temos Cage, um ex-ladrão de bancos que, após pagar uma pena de 8 anos atrás das grades, é posto em liberdade. Logo no seu primeiro dia nas ruas, se descobre no meio de duas perseguições: dos policiais que o prenderam no passado e do ex-parceiro no crime (Josh Lucas). O que ambos querem é saber onde o bandido escondeu os US$ 10 milhões que o fizeram ser pego, fruto do assalto que estava em ação e que até hoje ninguém encontrou. Mas se os oficiais da Lei irão se manter à distância até conseguirem reaver o que foi roubado, o antigo companheiro não será tão paciente – e, por isso, irá fazer de refém a única filha do antigo amigo, para motivá-lo a dar-lhe o que está buscando.

São tantos os problemas de O Resgate que é até um pouco difícil saber por onde começar. O roteiro de David Guggenheim (Protegendo o Inimigo, 2012) é tão cheio de furos e clichês que mais parece um mosaico de ideias descartadas por produções melhores. Por maior que seja a boa vontade do espectador com o projeto, perdoando certas passagens menos convincentes, esse esforço se esvai a partir no momento em que a garota, escondida no porta-malas de um automóvel em movimento, consegue fazer um furo no estofado do banco traseiro e, com apenas dois dedos pra fora do buraco, consegue ao mesmo tempo alcançar um telefone celular convenientemente disponível e ainda discar 911 para que alguém venha em seu socorro. E este é apenas o primeiro de tantos absurdos, numa trama digna dos mais pálidos exemplares de nível B pra baixo.

Dirigido em ponto morto pelo britânico Simon West (Os Mercenários 2, 2012), O Resgate é mais um desastre na carreira de Nicolas Cage, talvez um dos seus pontos mais baixos. Seus três últimos longas – Reféns (2011), O Pacto (2012) e este – foram lançados discretamente nos cinemas americanos, produzidos com o intuito exclusivo de obter retorno apenas no mercado caseiro de home vídeo. Com um orçamento de UR$ 35 milhões, o novo filme arrecadou nas bilheterias menos do que 1% deste valor, num dos maiores prejuízos do ano. Mas o protagonista não pode ser apontado como o único culpado: a impressão é que todos tinham plena noção da bobagem com que haviam se envolvido e por isso entregam apenas o pior ao alcance de cada um. Josh Lucas, que chegou a se envolver em trabalhos interessantes como J. Edgar (2011) e Uma Mente Brilhante (2001), beira o patético de tão exagerado, enquanto que Danny Huston (filho de John e irmão de Anjelica) possui alguns dos diálogos mais risíveis da temporada. Quem, de fato, merece mesmo ser resgatado somos nós, os espectadores, que somos obrigados a nos confrontar com tamanho desperdício em nossas salas, ao mesmo tempo em que muita coisa boa acaba sem espaço. Uma lástima.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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