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Sinopse

A perspectiva infantil daquele que viria a se tornar um ícone mundial. O jovem Jesus Cristo, aos sete anos, antes de ter a revelação de que era filho de Deus e precisaria se sacrificar para purificar os pecados do mundo.

Crítica

O cinema religioso tem demonstrado uma força surpreendente nos últimos anos. Mas se a incidência dessa temática parece algo novo, muito se engana aquele que pensar dessa maneira. Afinal, títulos como Ben-Hur (vencedor de 11 Oscars em 1959) e A Paixão de Cristo (que arrecadou mais de US$ 370 milhões nas bilheterias norte-americanas em 2004) são provas irrefutáveis do sucesso dessa fórmula. No entanto, os longas mais recentes que se inserem no gênero tem em comum mais defeitos do que qualidades: geralmente são produções baratas (para os padrões hollywoodianos, é claro), feitas a toque de caixa e com um tom narrativo extremamente catequizador e pouco crítico. Pois é exatamente nesse filão em que O Jovem Messias se encaixa.

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A proposta, como se pode imaginar pelo que é anunciado, é contar a história de Jesus Cristo quando esse era ainda criança, período que é negligenciado nas escrituras bíblicas. Portanto, o interessante seria fazer um exercício de imaginação a respeito do que poderia ter acontecido durante estes anos e como esse período de formação teria influenciado o homem que ele se tornaria tempos depois. O potencial para polêmicas era enorme, principalmente se quem estivesse responsável por essa história fosse um nome de respeito e de autoria comprovada, como fez Martin Scorsese em A Última Tentação de Cristo (1988). Ao invés disso, quem temos no comando de O Jovem Messias é o desconhecido Cyrus Nowarasteh, que até então só havia entregue longas de pouco destaque, como o telefilme Depois do Atentado (2001), com Richard Dreyfuss, e o drama O Apedrejamento de Soraya M. (2008), com Jim Caviezel. Créditos discretos, mas que parecem ter sido suficientes para sua escolha nesse projeto bem mais ambicioso.

Porém, muito mais surpreende é descobrir quem estava, de fato, ditando as regras por aqui: os produtores Chris Columbus, Michael Barnathan e Mark Radcliffe, o mesmo trio por trás da multimilionária saga do bruxinho Harry Potter. Especula-se que tenham querido pegar carona nessa febre religiosa e faturar mais um trocados, mas para tanto teriam sido necessários alguns cuidados que aqui verificam-se inexistentes. Pra começar, o enredo, baseado no romance “Christ the Lord: Out of Egypt”, de Anne Rice – sim, ela mesma, a criadora do vampiro Lestat de Entrevista com o Vampiro (1994) – é absurdamente simplista. O Jesus Cristo por ela desenhado poderia muito bem ser aluno da Escola de Mutantes do Professor Xavier da série X-Men, um garoto que descobre ter poderes especiais quando estes passam a se manifestar de forma inesperada, tornando-o capaz de ressuscitar mortos a seu bel prazer. Ainda assim, encara as revelações a seu respeito com absoluta serenidade, como se desde o início estivesse pronto para tudo que lhe aconteceria, sem dúvida ou momentos de angústia. Ou seja, não era um homem como qualquer um de nós. E essa idealização é tão superficial quanto inconsistente.

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Além do fraco desempenho do jovem Adam Greaves-Neal, que parece não se esforçar para demonstrar uma variedade de emoções, até mesmo atores veteranos, como Sean Bean e Christian McKay, carecem de melhores oportunidades para entregarem atuações mais viscerais. É tudo muito raso, imediato e sem nuances. O Jovem Messias evita qualquer oportunidade de abordar temas mais profundos – como o exílio no Egito ou a perseguição dos romanos – preferindo manter-se na superfície de assuntos já muito – e melhor – explorados por obras similares. E sem entregar nada de novo, termina sem apresentar nada que justifique sua mera existência, revelando-se tão esquecível quanto a Bíblia faz crer que tenham sido estes anos na vida do pequeno Jesus. Se era esse o objetivo – ou seja, apenas reafirmar o que todo mundo já sabe – qual sua valia?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Alysson Oliveira
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