Crítica


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Sinopse

Uma mulher divorciada se apaixonada por um garoto mais novo que se muda para a sua rua. A partir do relacionamento que surge entre os dois, ela descobre que ele tem um segredo sombrio.

Crítica

Qualquer pessoa um pouco mais antenada com o que acontece no universo pop já percebeu que Jennifer Lopez há um bom tempo desistiu de ser atriz – ou cantora, ou sei lá o que. Seu crédito principal no momento é “celebridade”, e tudo o que faz – seja um filme, um cd, apresentar um programa ou desfilar no tapete vermelho – tem como único e exclusivo objetivo apenas promovê-la junto ao olhar do público. E com O Garoto da Casa ao Lado a situação não é nem um pouco diferente. Esse arremedo de filme poderia tranquilamente se posicionar desde já como um dos piores lançamentos do ano, mas talvez a iniciativa de sequer considerá-lo um exercício cinematográfico seja uma ofensa demasiada a qualquer outro artista que tenta se expressar através da sétima arte. O que se tem aqui é trash, lixo da pior qualidade que deve não apenas ser evitado, mas antes de tudo desprezado com a maior veemência possível.

Pra começar, O Garoto da Casa ao Lado é um filme anacrônico, fora do seu tempo. Talvez, se tivesse sido lançado duas ou três décadas atrás, até fizesse algum sentido pegando a onda de tantos thrillers eróticos genéricos lançados no final do último século. Hoje em dia, no entanto, é apenas estúpido. Senão, vejamos. Jennifer Lopez, que aos 45 anos continua com uma forma física melhor do que qualquer garota de 20 – e faz questão de deixar isso bem claro – é uma professora de literatura que fica encantada ao ganhar de presente um exemplar da primeira edição de Ilíada, de Homero (um livro datado do século VIII a.C., ou seja, que nunca teve uma única primeira edição original, e sim milhares no decorrer dos séculos) e que cita J.K. Rowling (a autora de Harry Potter) como exemplo de que seguir a carreira na área das letras pode ser garantia de sucesso para qualquer um (afinal, este exemplo é uma exceção, e não regra). Bom, essa pessoa que obviamente não é muito iluminada foi traída pelo marido nove meses atrás e está morando sozinha com o filho adolescente. Sua rotina se altera quando para casa ao lado se muda um jovem de 20 anos (Ryan Guzman), sem pais, que vem cuidar do tio doente. E é óbvio que entre ela e o rapaz a atração será imediata.

Antes de mais nada: qual o problema dos dois se relacionarem? Ela está sozinha, em forma, é livre e desimpedida. Ele é solteiro, maior de idade e não deve satisfação a ninguém. Mas, quando finalmente um vai para a cama do outro, ela passa a agir como se tivessem cometido o pior dos pecados, enquanto que ele se transforma, do vizinho atraente, sorridente e prestativo, em um maníaco enlouquecido decidido a persegui-la por todos os lugares. Denunciá-lo? Contatar as autoridades? Conseguir uma restrição judicial ou proteção policial? Isso parece nunca passar pela cabeça dela, que desde o primeiro instante age como se a culpa fosse dela (!), e não dele. E olha que as oportunidades são muitas: quando ele se apresenta como novo aluno a partir de um email falso, ela simplesmente deveria contar a verdade para a direção da escola. Ou quando ele picha o banheiro público com denúncias, tentando denegrir a imagem dela, bastaria chamar os que o conhecem para mostrar o que ele é capaz. Mas estes são apenas algumas atitudes que ela evita, agindo com o único objetivo de se tornar cada vez mais vítima da situação.

O diretor Rob Cohen, acostumado a trabalhar com astros de força bruta como Vin Diesel (Velozes e Furiosos, 2001) e Sylvester Stallone (Daylight, 1996), conduz com mão pesada esse O Garoto da Casa ao Lado, uma produção misógina, machista e inverossímil. Igual a tantas outras de qualidade duvidosa e conteúdo semelhante que atrolam as sessões da tarde e os corujões noturnos, este thriller não provoca excitação em ninguém, preferindo trilhar caminhos óbvios e já conhecidos, repletos de clichês do gênero que são revisitados sem inspiração nem vigor. É tudo previsível, e pra piorar, absurdo. Há aqueles que poderão se envolver pelo clima de paranoia e perseguição, restringindo-se a uma leitura superficial da trama. No entanto, tal postura não só é perigosa como leviana. E uma vez de olhos bem abertos, é impossível não refutar cada um dos argumentos aqui explorados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
1
Thomas Boeira
2
MÉDIA
1.5

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