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Sinopse

Quando John Connor, então líder da resistência dos humanos, envia o sargento Kyle Reese de volta para 1984 para proteger Sarah Connor e proteger o futuro, uma inesperada falha temporal aparece. Agora, o sargento Reese se encontra em uma versão do passado desconhecida, sendo forçado a trabalhar junto com novos aliados, incluindo o Guardião, e precisando lutar contra novos inimigos.

Crítica

2029, 1984, 1973, 1997, 2017... Uma das grandes características da saga criada por James Cameron há mais de três décadas está de volta em O Exterminador do Futuro: Gênesis – as viagens no tempo. Um vez que esse expediente, tão importante para as tramas dos três primeiros episódios, foi deixado de lado em O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009), quarto capítulo da série, é uma boa notícia perceber essa volta às origens. Por outro lado, uma análise mais detalhada confirma que tal retorno não precisaria ter sido tão intenso – há muitas sequências que são recriações literais de cenas vistas nos longas anteriores, ao mesmo tempo em que algumas inovações propostas simplesmente não funcionam e outras soas anacrônicas dentro do universo geral. Assim, temos um filme não muito ruim, mas também longe de ser bom. Em resumo, apenas desnecessário.

Após o fim do seu mandato duplo como Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger voltou a demonstrar interesse em Hollywood, deixando sua carreira como político de lado. Porém, nos últimos anos, além de sua participação na saga Os Mercenários (ideia do amigo Sylvester Stallone), nenhum dos projetos com os quais se envolveu chegou a chamar o mínimo de atenção. Era o momento propício, portanto, para resgatar um dos seus personagens mais icônicos: T-800, o ciborgue do futuro enviado ao passado – primeiro para matar o filho, depois para defender a mãe – para interferir de forma decisiva na rebelião dos homens contra as máquinas comandadas pela toda poderosa Skynet. Em O Exterminador do Futuro (1984) e nos seguintes O Julgamento Final (1991) e A Rebelião das Máquinas (2003) sua participação fora decisiva. A Salvação inverteu essa ordem, descartando-o e reduzindo sua participação a uma recriação digital. Por quê trazê-lo de volta em Gênesis, então? Esta é uma tarefa que, infelizmente, o roteiro de Laeta Kalogridis (do interessante Ilha do Medo, 2010) e Patrick Lussier (do problemático Fúria sobre Rodas, 2011) não consegue resolver à contento.

Mais do que uma continuação e menos do que um recomeço, Gênesis propõe uma nova linha narrativa, paralela aos eventos mostrados nos dois primeiros filmes da série – os capítulos três e quatro são simplesmente ignorados. E em última instância, o que se tem é uma briga de família. Em 2029, a Skynet está encurralada pelas ações rebeldes lideradas por John Connor (Jason Clarke), e para reverter esse quadro envia ao passado um ciborgue T-800 (Schwarzenegger) com a missão de assassinar a mãe dele, Sarah Connor (Emilia Clarke) e, assim, impedir que o próprio venha a nascer. A resistência, ao saber do ocorrido, manda para o mesmo ano um dos seus principais solados, Kyle Reese (Jai Courtney), destinado a defendê-la dos ataques. Ele é bem sucedido em sua tarefa, se apaixona por aquela que deveria proteger e acaba se tornando pai do futuro John – numa confusão temporal difícil de entender.

Isso foi visto em O Exterminador do Futuro. O que descobrimos, agora, é que Sarah não é mais aquela moça indefesa. E é neste ponto em que as mudanças começam. Descobrimos que um outro T-800 foi enviado ao ano de 1973 para cuidar dela desde sua infância. Dessa forma, ela está preparada para o que irá acontecer, tem consciência de sua importância e das consequências de seu envolvimento com Reese. Por outro lado, assim que os três se reúnem em 1984, ao invés de partirem para 1997 – ano até então apontado como o do Julgamento Final – decidem ir até 2017, quando Kyle e Sarah poderão interferir em um acontecimento ainda pior: o lançamento do projeto Gênesis, um sistema tecnológico que representa o embrião da própria Skynet. Eliminar a ameaça antes mesmo dela existir volta a ser o centro da questão.

Aqui, no entanto, o enredo conduzido sem muita inspiração por Alan Taylor (Thor: O Mundo Sombrio, 2013) assume seu maior risco: com o temível T-1000 (o robô de metal líquido que por pouco não roubou todas as atenções de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final) reduzido a uma participação especial, a Skynet ainda inexistente e Sarah, Kyle e T-800 envoltos em um mesmo propósito, faltava um vilão que se opusesse a todos. E ao invés de introduzir um novo personagem, temos a remodelação de um antigo. Este se apresenta como T-3000, e ainda que sua composição seja surpreendente, conhecer sua verdadeira identidade é um choque que poucos aceitarão – em ambos os lados da tela – sem protesto. Mexe-se aqui em dados fundamentais da estrutura de todo esse universo, e tal abalo exigirá graves consequências na credibilidade de toda a história.

Jason Clarke é um ator de pouco carisma, e aqui – substituindo Tom Hardy, que preferiu participar do excelente Mad Max: Estrada da Fúria (2015) – ele mostra mais uma vez que seu futuro como astro de ação é frágil. Jai Courtney e Emilia Clarke, quando de posse de bom material, até conseguem sair ilesos, mas os perfis relutante dele e feminista dela acabam soando um pouco exagerados – além de estarem o tempo inteiro na sombra das performances superiores de Michael Biehn e Linda Hamilton nos longas anteriores. O oscarizado J.K. Simmons é desperdiçado em uma participação pouco aproveitada, enquanto que Matt Smith talvez ganhe importância no futuro, pois aqui sua presença é quase descartável. Resta Arnie, um rosto amigável e de confiança, que tenta fazer o melhor com o que lhe é oferecido, mesmo sem tantas oportunidades como um dia já teve à disposição. Por fim, O Exterminador do Futuro: Gênesis soa mais ambicioso do que o necessário, prometendo muito e entregando pouco, resultando em um gosto amargo nada bem-vindo para um filme que se pretendia ser o início de uma nova trilogia.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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