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Sinopse

Ao chegar numa pequena cidade do Arizona, um homem mata três pistoleiros ao ser provocado. O problema é que um deles havia sido contratado pelos moradores para protege-los dos bandidos. O estranho então decide assumir a missão, mas somente diante de algumas condições, como pintar toda a cidade de vermelho e rebatizá-la de Inferno.

Crítica

Clint Eastwood tornou-se célebre homem de western por vias tortas, longe da mitologia do cowboy norte-americano. Sob a égide do diretor italiano Sergio Leone, filmando em descampados espanhóis, construiu a figura emblemática do homem sem nome, afamado pela trilogia dos dólares. Ensimesmado, lacônico e de gatilho insuperável, este pistoleiro - assemelhado a um ronin do Japão feudal - encabeçou e até hoje simboliza com perfeição o ideário do chamado Spaghetti Western, que desmontou o velho oeste e deu cores ainda mais terrosas a este gênero americano por excelência. Clint ressuscitou o personagem em O Estranho sem Nome, faroeste de claras influências leônicas, sua segunda experiência como cineasta.

De início saído do mormaço desértico, o estranho vê-se acossado na pequena Lago por três homens que implicam com seu estrangeirismo, estes que logo preencherão os caixões expostos em frente à funerária local. Não demora, ele é convidado a defender a cidade de outros três bandoleiros vingativos prestes a serem soltos da cadeia. Dotado de plenos poderes, o “sem nome” faz de gato sapato com os locais, nomeando um anão como xerife e prefeito, desalojando todos os hóspedes de um hotel, flertando (e chegando às vias de fato) abertamente com mulheres comprometidas, trazendo os parias à mesa, em suma, deixando os próceres da comunidade cada vez mais irritados. Não bastasse este movimento, surgem alguns flashbacks que dão relevo à falência moral de Lago e deflagram certo mistério, algo de sobrenatural. Clint Eastwood sempre teve culhões para encarar o risco.

O que move O Estranho sem Nome é a espera repleta de observações ferinas que, de alguma maneira, encontram eco na sociedade norte-americana e no clássico Matar ou Morrer (1952), de Fred Zinnemann. Nivelar bandidos e cidadãos acima de qualquer suspeita parece a missão prima do estranho sem nome, aqui uma espécie de anjo vingador que transforma Lago num encarnado e ardente inferno, onde todos devem se purificar pela dor.

Conduzido de maneira sóbria, sem maneirismos e já conectado ao ideário que Clint Eastwood construiria como cineasta ao longo dos anos, O Estranho sem Nome traz mais que o oeste desmistificado, pois alinha discussões éticas atemporais que se descolam da tela e da época retratada pelo filme. Obra de brilho próprio, sem dúvida reverente (não prisioneira) ao Spaghetti Western, é digna homenagem a este macarrônico gênero que gestou tantas figuras icônicas, sendo provavelmente a principal delas, justamente este homem inominado construído por Eastwood e Leone, então reencarnado nos primórdios da hoje celebrada carreira atrás das câmeras do bom e velho Clint.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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