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Sinopse

Em expedição pela Antártida, cientistas enfrentam uma criatura alienígena que assume a forma de quem ela mata.

Crítica

O cenário é a Antártida, onde acompanhamos de início a estranha perseguição de um helicóptero a um cão. A paisagem branca é cortada pela aeronave dos noruegueses que caçam o animal até ele se refugiar em casa, com os seus, os norte-americanos. A câmera de John Carpenter cola no cachorro, fazendo dele o centro das atenções mesmo quando os pesquisadores da estação científica debatem ao fundo sobre a forma de vida estranha encontrada mais adiante. Sabemos, de antemão, que há algo errado, que o perigo pode vir exatamente de quem parecia vítima. Mas em O Enigma de Outro Mundo nem sempre nós, espectadores, teremos indícios e informações privilegiadas.

John Carpenter sabe que o verdadeiro terror não advém de aparições repentinas surgidas do escuro ou de truques baratos de som. Isso se chama susto e dura pouco. O cineasta quer nos deixar em suspenção, e isso requer um pouco mais de habilidade. Para tanto, ele ora faz como nas sequências iniciais do cão, ou seja, nos põe à frente dos personagens, ora nos coloca no mesmo breu que os envolve. Na medida em que a narrativa avança, o mistério vai sendo revelado. A Coisa é na verdade uma forma de vida extraterrestre que assimila células e toma suas formas. Se ela se apoderar de um animal, será esse animal. Logo, se tomar contato com um humano, vira cópia fiel deste. O que nos joga noutro nível de apreensão, pois todos, sem exceção, podem ser o inimigo.

Kurt Russell interpreta o protagonista de O Enigma de Outro Mundo, aquele que centraliza os esforços de aniquilação do alienígena. Lá pelas tantas, porém, seremos levados mais uma vez a duvidar de nossas certezas, afinal de contas até mesmo esse cara que parece imune ao perigo, devido à bravura com que toma a dianteira da situação, pode estar dominado pelo ser hostil. Os embates físicos com a criatura, por sua vez, inserem o filme no domínio do terror. Essa atmosfera é garantida, boa parte, pela excelente trilha sonora de Ennio Morricone e, sobretudo, pelo trabalho de Robert Bottin. Numa época sem acesso massivo aos meios digitais, em que o computador engatinhava enquanto meio de produção cinematográfica, seus efeitos práticos dão conta (muito melhor, diga-se de passagem) de corporificar esse horror que Carpenter inflama com o suspense.

A neve implacável castiga, gerando temperaturas inferiores a 40 graus negativos, e a batalha pela sobrevivência assume contornos ainda mais dramáticos, já que não há para onde correr. Há relação estreita entre O Enigma de Outro Mundo e Alien: O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott, tanto pela presença de um extraterrestre ameaçador quanto pelo cenário reduzido que quase não permite evasão ao exterior. Também em ambos a desolação e a desesperança se instauram na necessidade de garantir não só própria vida, mas também a subsistência da raça. Contudo - sem qualquer juízo de valor neste caso - se a obra-prima de Scott nos permite ter na figura de Ripley (Sigourney Weaver) uma espécie de heroína, no filme de Carpenter não há traços de heroísmo, pelo menos não daquele ao qual estamos acostumados.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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