Crítica


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Sinopse

Próximo de sua morte, o poeta e romancista Edgar Allan Poe passa a perseguir um serial killer que se inspira em suas obras para matar.

Crítica

A primeira referência que a geração atual terá ao ouvir falar de O Corvo será o longa de ação sobrenatural estrelado por Brandon Lee em 1994 e que até hoje já ganhou 3 sequências (1996, 2000 e 2005). No entanto, não poderiam estar mais longes do tema aqui em questão. Isso porque esse corvo de agora é muito mais antigo, e diz respeito ao autor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), um dos mestres do terror e suspense. Suas histórias tinham sempre um quê de fantástico, e um destes populares poemas se chama, justamente, O Corvo. Mas o filme dirigido por James McTeigue, o mesmo de V de Vingança (2005) não é uma adaptação direta, e sim uma recriação da trama, que pega emprestado o tema e a ambientação e ousa ir além, colocando o próprio Allan Poe como personagem principal de uma história sobre um serial killer que se inspira nas criações literárias do escritor para cometer seus crimes.

Quando o filme começa, Edgar Allan Poe (John Cusack, pouco inspirado) há muito deixou de ser um literato de respeito e tenta ganhar a vida escrevendo resenhas críticas para qualquer periódico que se disponha a publicá-lo. Uma das portas para um recomeçar está no casamento com Emily (Alice Eve, que em breve poderá ser vista também em Homens de Preto 3), filha do poderoso Capitão Hamilton (Brendan Gleeson, de O Guarda, 2011). Mas além de não contar com a aprovação do futuro sogro, ele precisa também reconquistar sua honra diante a sociedade. No entanto, volta a ser centro das atenções quando os crimes acontecem, assassinatos cometidos de acordo com a ficção inventada por ele em livros há muito lançados. E na investigação comandada pelo jovem e ambicioso detetive Fields (Luke Evans, confortável com a maior exposição pós tantos papéis como coadjuvante), Poe é a chave para solucionar o mistério da identidade do assassino.

O interessante é que pouco se questiona sobre a possibilidade do próprio Allan Poe ser o responsável pelos assassinatos. Como essa possibilidade é logo descartada, o círculo de suspeitos vai rapidamente diminuindo, até que sobram poucos – e óbvios – candidatos. E esse é o maior problema do filme: apesar do início promissor e do desenvolvimento interessante, que deixa o espectador envolvido, promovendo algumas surpresas e uns bons sustos, sua conclusão é um total anticlímax, decepcionante e sem maiores emoções. Ainda mais que desde início somos alertados para uma evidência histórica, a de que Poe morreu com apenas 40 anos, ao ser encontrado aparentemente alucinando num banco de praça, após dias sem que ninguém soubesse seu paradeiro. A proposta, portanto, é revelar o que teria lhe acontecido para ocasionar um final tão trágico. E essa expectativa, de forma alguma, é atendida.

McTeigue, cineasta que já se envolveu em produções que apostavam bastante no visual, como a trilogia Matrix (1999-2003) ou Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones (2002), sempre como diretor assistente, em O Corvo, ao assumir plenamente o comando da realização, mostra mais uma vez uma preocupação maior com a imagem e menos com o conteúdo. Cusack também é um equívoco, repetindo o mesmo tipo histriônico e descontrolado visto em todos os seus papéis similares, como 1408 (2007), Identidade (2003) ou mesmo o catastrófico 2012 (2009). No fim sobra pouco que se salva, e esse material basicamente diz respeito à obra original do escritor, essa, sim, acima de qualquer suspeita. É possível que um conhecedor profundo destes textos tenha uma experiência muito mais positiva, pois irá compreender com mais clareza as referências e homenagens. Mas isso é fechar demais o círculo, ainda mais para um projeto que apostava numa maior abrangência de público.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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