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Sinopse

O Caçador alia-se a Sara, uma guerreira por quem é apaixonado desde criança, na luta contra Freya, a Rainha do Gelo que está construindo seu próprio exército. Porém, a vilã age com a ajuda da irmã, a poderosa feiticeira Ravenna.

Crítica

Coordenador de efeitos especiais de Branca de Neve e o Caçador (2012) – e indicado ao Oscar por esse trabalho – o francês Cedric Nicolas-Troyan foi alçado ao posto de diretor da sequência O Caçador e a Rainha de Gelo. Sua credenciais para assumir tal responsabilidade, no entanto, se devem mais à fatores externos do que pela sua própria competência. Afinal, após tabloides afirmarem que o cineasta Rupert Sanders e a estrela Kristen Stewart haviam se envolvido romanticamente durante a produção do longa anterior, os dois foram limados dessa continuação. Dessa forma, tem-se um novo capítulo do conto de fadas de Branca de Neve, porém sem a participação da protagonista. O resultado, uma mistura absurda de O Senhor dos Anéis com Frozen (2013), é uma legítima mula-sem-cabeça, que representa com propriedade tudo que há de pior na Hollywood de hoje.

Pra começo de conversa, simplesmente não há justificativa para a existência desse filme – a não ser, é claro, mais um esforço visível de arrancar alguns milhares de tostões de jovens incautos dispostos a comprar qualquer bobagem em troca de duas horas regadas à muita pipoca e refrigerante. Justamente por isso, é triste ver atrizes talentosas como Charlize Theron, Jessica Chastain e Emily Blunt entregues a um enredo tão improvável e mal elaborado quanto este. Mas elas possuem suas razões. A primeira teve o mais alto cachê da produção para reprisar o papel da Bruxa Má Ravenna, já vista no primeiro episódio. A segunda foi obrigada por contrato, condição que assumiu ao assinar com a Universal para participar de A Colina Escarlate (2015) – uma escolha duplamente infeliz, portanto. E a terceira é uma das estrelas mais subestimadas da atualidade, que talvez tenha aceito esse papel por imaginar que teria mais destaque em cena, vislumbrando a possibilidade de um sucesso que finalmente elevasse seu status. O resultado, no entanto, é o exato oposto dessa expectativa.

Com Ravenna morta (como visto antes), seria preciso uma boa explicação para seu retorno. E sem Branca por perto – ela só é citada, e mais de uma vez – restou ao Caçador vivido por Chris Hemsworth a condição de protagonista. Esse, em busca de uma nova franquia além do Thor da Marvel, cumpre bem a condição de herói – ninguém pode dizer que ele não está acostumado a isso. De início, volta-se nos tempo e conhecemos o jovem rapaz ainda criança, quando foi raptado pela cruel Rainha da Neve (Blunt) – irmã de Ravenna e dona de poderes ainda maiores. Ele é forçado a juntar-se ao exército dela, mas quando se apaixona por Sara (Chastain), os dois são amaldiçoados pela governante, que não acredita no amor – ela sofre de uma grande desilusão, que vitimou a própria filha e a fez perder sua única e verdadeira paixão. Os anos se passam, mas eventualmente a mão de Ravenna se mostrará por trás disso tudo. E onde ela estará? Escondida ao alcance de todos: dentro do Espelho Mágico!

Entre uma rainha perdida que a tudo e todos deseja congelar, reviravoltas óbvias (só o Caçador chega a ‘morrer’ três vezes, para logo em seguida reaparecer são e salvo) e quatro anões – parece que até nestas contas houve um engano – quando tudo parece não poder ficar pior, eis que surge um bode-macaco (ou seria o contrário?) para dificultar ainda mais qualquer boa vontade remanescente em relação a este projeto. Hemsworth e Chastain não possuem boa química – os dois funcionam melhor quando estão lutando do que ao demonstrarem algum tipo de sentimento um pelo outro – e o grande mote deste encontro, ou seja, a luta entre as duas irmãs bruxas – Ravenna e Freya – só acontece nos dez minutos finais da trama. Até lá, temos apenas eventos isolados, que pouco colaboram para o avanço da história.

Charlize Theron pode ser linda, Jessica Chastain tem uma presença hipnotizante e Emily Blunt é competente em tudo que faz. Mas sem uma mão que as conduza com segurança, apontando para onde seguir, não há talento que resolva. Assim, uma resulta exagerada, a outra está quase muda e a terceira se revela a escolha mais infeliz, sem conseguir dizer a que veio. O Caçador e a Rainha do Gelo não deve agradar nem aos (poucos) fãs do primeiro filme e muito menos os admiradores do elenco aqui reunido, pois este é desperdiçado entre uma trilha sonora equivocada e efeitos especiais redundantes e explorados sem criatividade. Título caça-níquel, tem tudo para ser esquecido tão rápido quanto o flerte entre Sanders e Stewart. Afinal, se até eles já estão em outra, por que perder tempo por aqui?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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