Crítica

No material de divulgação da comédia juvenil Nota Máxima há uma citação de Jack Garner, jornalista do Gannett News Service (?), que considera este filme como “um mix de Clube dos Cinco, 1985, com Onze Homens e um Segredo, 2001”. Talvez este julgamento não seja de todo errado, apesar de estar também longe de uma verdade cem por cento confiável. Afinal, do primeiro só possui o fato de serem adolescentes enfrentando problemas estudantis, e do segundo a situação de estarem envolvidos num golpe relativamente complicado – se levarmos em conta as condições amadoras deles. Agora, não há nada do ritmo envolvente, de personagens carismáticos ou de um roteiro bem sacado. O que se vê na tela, infelizmente, não consegue ir muito além do redundante e extremamente previsível.

Se há algo a ser destacado em Nota Máxima é o elenco, repleto de nomes “antes da fama”, ou seja, em início de carreira – começo, aliás, nada promissor. O protagonista é Chris Evans, um rapaz bonito, mas que se revela nestes primeiros passos incapaz de expressões mais complexas. Seu melhor amigo é Bryan Greenberg, que chamou alguma atenção anos depois ao se envolver com Uma Thurman na simpática – porém insossa – comédia romântica Terapia do Amor (2005), em que aparecia como filho de Meryl Streep. No time feminino, com um pouco mais de destaque, temos uma Scarlett Johansson antes da seqüência de sucessos de crítica que estrelou nos anos seguintes. Nota-se, desde então, uma qualidade superior na garota, mas nada que o fraco enredo consiga explorar com maior sabedoria. Por fim, há Erika Christensen, filha de Michael Douglas em Traffic (2000), sem mostrar nada além do que o belo rosto já revela.

Resultado de um projeto direcionado a um público específico, este filme passou por diversas versões e exibições-teste até chegar ao seu formato final. Foram feitas tantas alterações durante esse processo que o filme pronto, em determinados momentos, pouco lembra a proposta original. Isso revela uma grave falta de personalidade dos produtores, assim como aponta para a direção pouco inspirada de Brian Robbins, realizador mais acostumado à televisão americana. Nota Máxima, no entanto, peca principalmente pelo raso argumento: um grupo de alunos se une para tentar roubar as respostas do SAT (algo como um vestibular, no qual se define uma pontuação que direciona os alunos para cada universidade específica). São seis colegas de escola, um completamente diferente do outro – exatamente como manda a cartilha. Tem o galã, o desajeitado, a estranha, a cdf, o atleta e o alienado – todos juntos unidos por uma causa em comum.

O que acontece a partir do momento em que o golpe é estabelecido? Qualquer espectador um pouco mais experiente saberá de antemão. Eles irão se conhecer melhor, para logo perceberem que não são assim tão diferentes entre si como imaginavam. Afinidades se manifestam, interesses similares despertam, e no final a moral e a ética – a boa mensagem, afinal – irá falar mais alto. O ritmo não ajuda, há poucos momentos de humor legítimo, o romance entre os protagonistas é muito artificial, e não existe no roteiro nada próximo a uma surpresa ou reviravolta que possa passar como uma grande sacada. Sem maiores atrativos, resta apenas a conclusão de que Nota Máxima não consegue alcançar nada mais do que um resultado medíocre.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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