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Sinopse

Prostituta maltratada pela esposa de seu cafetão, Neusa rapidamente vai ter um conflito de interesse com quem a rodeia.

Crítica

Neville D’Almeida dirigiu alguns dos filmes mais famosos da pornochanchada como A Dama do Lotação (1978), Os Sete Gatinhos (1980) e Rio Babilônia (1982). Embora o sumo desse movimento tenha se concentrado nas décadas de 1970 e 1980, alguns filmes desgarrados surgiram nos anos 90, dois deles dirigidos pelo cineasta mineiro: Matou a Família e foi ao Cinema (1991) e este Navalha na Carne. Em um primeiro momento pode parecer exagero chamar esta produção de pornochanchada visto que os risos inexistem. O que segura a alcunha no entanto é o uso da música. Momentos musicais costuram a trama e eram característica da chanchada brasileira, justificando a inclusão deste longa-metragem em uma lista deste gênero.

navalha na carne (12)

A trama é baseada na peça de teatro de Plínio Marcos, conhecido pelos seus personagens mundanos e perdidos. Aqui, conhecemos três deles: o cafetão Vado (Jorge Perugorría), a prostituta Neusa (Vera Fischer) e o homossexual Veludo (Carlos Loffler). Eles moram em um cortiço decrépito e as relações entre os três são bastante abusivas. Vado bate em Neusa pensando que ela não deixou o dinheiro que lhe é devido pelos seus programas. Ela não entende as porradas e, juntos, descobrem que quem poderia ter roubado a grana é Veludo, que precisava de dinheiro para conquistar um barman de quem é apaixonado. Os dois, então, partem para cima do provável ladrão, com violências físicas e verbais.

Jece Valadão já havia estrelado outra versão, lançada em 1969 e dirigida por Braz Chediak. Quase trinta anos depois, em 1997, após a chamada retomada do cinema brasileiro, Navalha na Carne representou o retorno de Vera Fischer às telonas. Ela fez seu nome em novelas globais, mas também cativou os espectadores por suas performances em Bonitinha Mas Ordinária (1981), Eu te Amo (1981), Amor Voraz (1984) e Doida Demais (1989). Portanto, esta obra de Neville D’Almeida trouxe a estrela de volta. Fischer é o destaque do filme, se entregando de corpo e alma a um personagem bastante difícil. Neusa recebe as porradas da vida de pé, tentando levantar a cabeça sempre depois de um momento conturbado. Ela ama seu cafetão, embora seja maltratada a todo tempo. Em uma cena curta, não sabemos se flashback ou delírio, observamos momentos de felicidade, de paz. Completamente diferente da realidade dura em que ela vive com seu homem. Uma pena que Jorge Perugorría não consiga ir além da boa caracterização, ficando difícil até entende-lo com seu forte sotaque cubano.

Quem surpreende positivamente é Carlos Loffler com seu espevitado e forte Veludo. Surgindo para causar rebuliço na história, ele rouba o dinheiro, tenta mentir para escapar das represálias, mas acaba por enfrentar seus denunciadores e até sair com alguma moral do embate. Diferente de Neusa, que até pouco tempo atrás recebia tapas e socos sem revidar, Veludo desafia seu agressor, o colocando em outra posição, nada submisso.

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Com bons personagens e trama interessante, Navalha na Carne só não é melhor pela falta de ritmo. O filme demora muito para deslanchar, apresentando algumas barrigas na história que poderiam ser cortadas sem prejuízo algum à trama principal. As cenas de delírio e fantasia são muito bem executadas e tem na direção de arte seus principais predicados. No entanto, elas param a história corrente, deixando ainda mais inchado um filme que se beneficiaria caso aparasse algumas arestas. A única cena dessa veia que poderia ser mantida é a final, que acabou gerando um cartaz contestador e polêmico, com Vera Fischer nua e ensanguentada, pregada na cruz. Nota-se no filme muitas ideias boas e contundentes, sabotadas pela total falta de ritmo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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